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França suspende reforma da Previdência

Reconduzido na semana passada ao cargo de primeiro-ministro da França, depois de ter renunciado com apenas um mês no cargo, Sébastien Lecornu propôs na terça (14) uma suspensão da reforma das aposentadorias até a próxima eleição presidencial, prevista para 2027, em seu primeiro discurso diante da Assembleia Nacional. O anúncio é uma forma de garantir que seu governo não será vítima de uma moção de censura da oposição.

"Eis incontestavelmente uma ruptura", discursou aos deputados.

Para demonstrar sua disposição ao diálogo com os deputados, o premiê prometeu não recorrer a um controverso dispositivo que lhe permitiria aprovar o orçamento de 2026 sem votação parlamentar, o artigo 49, alínea 3 da Constituição.

Ele também se comprometeu a propor a criação de uma "contribuição excepcional" sobre grandes fortunas - outra forma de contentar a oposição de esquerda.

Lecornu se recusa, porém, a adotar a "taxa Zucman", um imposto de 2% sobre os patrimônios acima de 100 milhões de euros (cerca de R$ 640 milhões). O economista que propôs a taxa, Gabriel Zucman, acusou o premiê de poupar os bilionários em seu plano.

Essa reforma prevê o aumento progressivo da idade mínima para se aposentar, de 62 para 64 anos.

O primeiro-ministro também propôs que até o final do ano seja incluído na Constituição francesa o novo estatuto da Nova Caledônia, arquipélago do oceano Pacífico que pertence à França. Conforme acordo assinado em julho para pôr fim à disputa com os separatistas, será criado um "Estado da Nova Caledônia", que pode ser reconhecido por outros países, mas continua a fazer parte da França.

A discussão mexe com um já instável ambiente político francês, que busca uma renúncia ou deposição de Macron da presidência.

Por André Fontenelle (Folhapress)