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Hamas anuncia fim da guerra

Fim da guerra foi celebrado por pessoas comuns e líderes mundiais | Foto: Reuters/Folhapress

Por Guilherme Bottacini e Victor Lacombe (Folhapress)

O grupo terrorista Hamas declarou nesta quinta-feira (9) o fim da guerra na Faixa de Gaza enquanto o gabinete de segurança do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, reúne-se para discutir o acordo assinado no Egito na quarta (8). O principal líder da facção palestina em Gaza disse ter recebido garantias dos mediadores, que incluem a Turquia e o Qatar, e do governo dos EUA de que o conflito, que completou dois anos esta semana, oficialmente acabou.

Pouco antes da reunião com o gabinete, Netanyahu voltou a defender que o presidente americano Donald Trump deveria ganhar o Prêmio Nobel da Paz pelo esforço para o fim do conflito, indicando o desfecho esperado positivo. O perfil do gabinete do premiê publicou montagem em que Trump aparece com um grande colar com a medalha da láurea ao lado do primeiro-ministro.

Trump também afirmou, durante reunião, que a guerra na Faixa de Gaza está encerrada.

"Eu acho que será uma paz duradoura, e espero que seja uma paz eterna no Oriente Médio. Os reféns devem ser libertados na segunda ou terça-feira. Pegá-los é um processo complicado. Esse será um dia de alegria, vou tentar visitar [Israel]. Estamos olhando as datas e iremos ao Egito, onde teremos uma assinatura oficial [do acordo]", afirmou Trump, que também elogiou países árabes da região que participaram das negociações. O americano é esperado em Jerusalém no próximo domingo (12).

Diminuindo as perspectivas de que Trump vença, o porta-voz do Comitê Norueguês do Nobel, responsável pela escolha, afirmou que a reunião final do grupo ocorreu na segunda (6), dois dias antes do anúncio de paz.

Aprovado o acordo, um cessar-fogo no território palestino entra imediatamente em vigor, e o fim do conflito deve ser anunciado oficialmente por Tel Aviv e o grupo terrorista. O ministro das Relações Exteriores israelense, Gideon Sa'ar, afirmou antes da reunião que o país está comprometido com o plano de Trump.

A expectativa é de que Exército de Israel inicie sua retirada de Gaza assim que a trégua for instaurada. Nas primeiras 24 horas após o anúncio, os militares devem recuar para uma primeira linha que possibilite ao grupo terrorista reunir todos os reféns.

De 48 horas a 72 horas depois do anúncio, todos os sequestrados ainda vivos devem ser libertados pelo Hamas - não há clareza se os corpos dos reféns mortos também serão recuperados no mesmo período. Durante esses três dias, a facção e Tel Aviv precisam negociar a lista de prisioneiros palestinos que serão libertados por Israel.

O Exército afirmou, em comunicado, que já iniciou "preparações operacionais" para a primeira fase do acordo. O chefe do Estado-Maior israelense, Eyal Zamir, instruiu as tropas a permanecerem em suas posições enquanto o pacto era discutido, e novos bombardeios foram realizados em Gaza nesta quinta pela manhã.

O trato não implica a retirada total das tropas de Israel de Gaza num primeiro momento. A segunda fase, ainda a ser debatida a partir das diretrizes do plano anunciado por Trump, prevê a retirada para uma segunda linha de recuo ainda dentro de Gaza apenas após o estabelecimento de uma força internacional transitória de estabilização do território palestino.

Com o acordo eventualmente concluído, Israel ainda manterá uma zona tampão por todo o perímetro de Gaza, inclusive no chamado corredor Filadélfia, área no sul do território palestino que vai da costa até o território israelense.

Ou seja, na prática, a previsão é de que Tel Aviv mantenha o controle da fronteira de Gaza com o Egito, ainda que o plano do presidente americano proponha a entrada de ajuda humanitária no território palestino sem interferências.

Embora a proposta de 20 pontos anunciada por Trump e construída em conjunto com países árabes e muçulmanos seja vantajosa para Tel Aviv, Netanyahu sofre pressão externa e interna para concordar com os termos negociados.

Internamente, Netanyahu tenta colher créditos pelo fim de uma guerra que ele próprio estendeu além do que a sociedade israelense parece suportar: poucos meses após o mega-ataque terrorista do Hamas, que deixou 1.200 mortos e deu início ao conflito, Netanyahu passou a ser duramente cobrado por críticos e familiares de reféns pela demora no retorno dos sequestrados - dos 251 levados pela facção palestina, 50 ainda estão em Gaza, e apenas 20 deles supostamente vivos. Em Gaza, mais de 67 mil morreram nos dois anos de guerra, segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas.