A tática que o presidente dos EUA, Donald Trump, tem aplicado a países como Japão e Indonésia passou a ser chamada pelo empresariado brasileiro de "coerção tarifária". Na avaliação dos que acompanham a guerra comercial, Trump impõe uma sobretaxa alta, sem lógica econômica, para depois fechar acordos que, de outra forma, nunca seriam alcançados.
A dúvida, na visão de empresários, é saber se essa estratégia dos Estados Unidos vai se repetir com o Brasil, onde o assunto está contaminado por camadas políticas e ideológicas, alheias às relações comerciais ameaçadas por uma sobretaxa geral de 50%.
Acordos bilaterais firmados nos últimos dias pelos EUA deixam claro que governo americano tem recorrido à ameaça de tarifas unilaterais elevadas como forma de pressionar países a firmar acordos em condições assimétricas, além de uma forte imposição de normas regulatórias americanas.
Essa abordagem ficou evidente em três negociações recentes acertadas com Indonésia, Japão e Tailândia, onde a ameaça de tarifas punitivas a partir de 1º de agosto levou aqueles países a cederem rapidamente e assinarem acordos com os EUA.
O caso mais ilustrativo é o da Indonésia. Após receber o aviso de que suas exportações sofreriam uma tarifa adicional de 19%, o governo indonésio assumiu compromissos sensíveis para evitar a penalização. Nesta semana, em nome do "comércio recíproco", concordou em eliminar 99% das tarifas sobre produtos agrícolas e industriais dos americanos.
Paralelamente, a Indonésia passou a aceitar diretamente os certificados técnicos e sanitários emitidos por autoridades americanas, como se fossem válidos internamente. Ficou acertada, ainda, a autorização para exportação irrestrita de minerais críticos aos EUA.
O pacote feito às pressas, costurado sob intensa pressão tarifária, também incluiu a expectativa de assinatura de contratos bilaterais da ordem de US$ 22 bilhões em setores como aviação, alimentos e energia.
Por André Borges (Folhapress)