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Negociação pelo cessar-fogo

Por Igor Gielow (Folhapress)

A Rússia entregou na segunda (2) à Ucrânia o memorando com suas condições para atingir um cessar-fogo e a eventual paz na guerra contra o vizinho, que invadiu em 2022. Entre os itens, está a exigência de que Kiev promova eleições presidenciais antes de ver qualquer tratado assinado.

Em meio a intensos ataques aéreos de lado a lado, os rivais concluíram sem grandes avanços a segunda rodada de negociações diretas sobre o conflito, mas entregaram oficialmente suas condições - Kiev havia divulgado as suas antes.

Citar eleições é uma forma de pressionar o presidente Volodimir Zelenski, cujo mandato expirou há um ano. Não houve pleito porque o país está em estado de sítio, o que pela lei local impede o voto.

O que os russos sugerem é que pode haver um cessar-fogo e, depois, um acordo de paz. Isso teoricamente poderia suspender o estado de sítio.

Zelenski já foi chamado de ilegítimo pelo russo Vladimir Putin, e rejeita a ideia - hoje, ele teria uma tentativa de reeleição complicada, provavelmente tendo como rival o popular ex-chefe das Forças Armadas Valeri Zalujni.

Para a trégua, os russos elencaram duas opções. Uma, a retirada imediata das forças ucranianas das partes que ainda controlam das quatro regiões anexadas ilegalmente por Putin em 2022: Kherson, Zaporíjia, no sul, e Donetsk e Lugansk, no leste.

A outra, segundo a agência RIA-Novosti, seria a aceitação de um pacote de medidas já conhecidas: a neutralidade militar, a ausência de forças estrangeiras em solo ucraniano, suspensão de ajuda militar e mobilização, além da limitação das forças de Kiev.

Todos esses itens, mais a eleição, fim das sanções econômicas contra a Rússia e o reconhecimento internacional das quatro regiões e da Crimeia, anexada em 2014, surgem como integrantes do que Moscou considera um arranjo definitivo. Por óbvio, é algo maximalista e que deixa em aberto o destino de outras áreas sob ataque, como Sumi e Kharkiv, no norte ucraniano.

Kiev, por sua vez, entregou um memorando com itens espelhados. Pede primeiro um cessar-fogo incondicional, a presença de uma força de paz internacional de salvaguarda, troca de prisioneiros e entrega de crianças que foram retiradas do país na guerra.

Depois, pede o estabelecimento de negociações sobre os itens, rejeitando neutralidade e perda de soberania territorial, embora admita discutir a última. Também dizem que as sanções devem cair, mas de forma gradativa.

Por fim, os ucranianos querem um encontro de Putin com Zelenski para sacramentar a paz. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que vai "tomar os passos necessários" para trazer os rivais à mesa em seu país. O americano Donald Trump disse, por sua vez, que "está aberto" para reunir-se com os beligerantes na Turquia.

Os russos já disseram que isso não seria possível agora, e a sugestão da eleição mostra que os planos do Kremlin são outros. O ministro ucraniano Rustem Umerov (Defesa) disse que não iria comentar a proposta russa antes de estudar seus termos, enquanto o chefe de gabinete presidencial, Andrii Iermak, escreveu no X que a Rússia não quer a paz.