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Vaticano dá início ao conclave

Cardeais no Vaticano pediram paz na Ucrânia e no Oriente Médio na terça (6), na última reunião antes de se reunirem para o conclave, que começará nesta quarta (7).

"Fazemos um chamado a todas as partes implicadas para que cheguem a um cessar-fogo permanente o quanto antes e negociem, sem condições prévias nem mais atrasos, a paz há muito desejada pelos povos atingidos e pelo mundo inteiro", afirmaram, segundo declaração divulgada pela Santa Sé.

Os encontros acontecem quase diariamente desde que o papa Francisco morreu, há duas semanas. Durante as reuniões, os cardeais compartilham pontos de vista sobre as prioridades da Igreja para o conclave. Eles já conversaram sobre as finanças do Vaticano, os escândalos de abuso sexual na instituição e a unidade da Igreja.

Na desta terça, a discussão se concentrou nas reformas de Francisco que devem ser levadas adiante, como os avanços na legislação sobre abuso sexual e em questões econômicas da Cúria Romana, diz o site oficial do Vaticano. Os cardeais também conversaram sobre o perfil do próximo papa, que deveria ser "um construtor de pontes, um pastor, um mestre da humanidade e o rosto de uma Igreja Samaritana".

A reunião de segunda já havia reunido 170 cardeais, incluindo 132 dos 133 que podem votar para escolher o próximo papa; ou seja, aqueles com menos de 80 anos. De acordo com o porta-voz da Santa Sé, Matteo Bruni, houve cerca de 20 intervenções ao longo do encontro.

Os religiosos falaram sobre as divisões dentro da Igreja, a importância de apoiar a fé dos migrantes e debateram conflitos armados em curso, temas prioritários para Francisco. O argentino defendeu migrantes com frequência ao longo de seu papado e, no último ano, ligou todos os dias para uma paróquia na Faixa de Gaza, palco de uma guerra entre Hamas e Israel, para demonstrar apoio.

Foi tema de debate ainda a dificuldade em conhecer outras culturas sem fazer julgamentos a partir dos próprios costumes. A questão também tangencia o papado de Francisco, o primeiro líder católico em 1.200 anos a ter nascido fora da Europa e o primeiro, na história, da América do Sul.

O pontífice foi responsável pela nomeação de 80% dos cardeais que devem escolher o novo papa - grupo que vai formar o conclave mais diverso da história em termos de nacionalidade, com cardeais procedentes de 70 países. Essa pluralidade faz analistas esperarem uma reunião mais longa do que a que elegeu Bento 16, em 2005, e Francisco, em 2013, que levaram dois dias.

Na reunião desta segunda, aliás, os cardeais já haviam delineado a figura de um papa pastoral dentro da perspectiva de diálogo e construção de relações com diferentes mundos religiosos e culturais. "Um pastor próximo à vida real das pessoas", afirma a ata do encontro. "Deve estar presente, ser próximo, capaz de ser ponte e guia."

Nesta terça-feira os cardeais começam a se instalar na residência de Santa Marta e outras dependências do Vaticano, onde permanecerão isolados do mundo até elegerem o sucessor de Francisco. O elevado número de votantes fez com que Santa Marta ficasse pequena e fosse necessário habilitar um edifício vizinho.

O conclave começará na quarta (7). Nesse dia, a partir das 15h locais (10h no Brasil), serão cortados os sinais telefônicos no interior do Vaticano para isolá-los de influências externas.

"Há vários perfis, muitas personalidades que poderiam ser escolhidas. Eu diria que pelo menos cinco ou seis", afirmou o cardeal e arcebispo de Argel, Jean-Paul Vesco, ao jornal italiano Corriere della Sera. "Há os candidatos, por assim dizer, naturais, aqueles que já são conhecidos por seu papel e sua personalidade. E depois estão os que intervêm e te fazem pensar: 'ele é forte'. Mas não há nenhum que ofusque os demais, nenhum do qual se possa pensar: 'será ele'", segundo Vesco.