Por Igor Gielow (Folhapress)
Poucas horas depois de Donald Trump levar a relação com a Ucrânia a um ponto de ruptura, chamando Volodimir Zelenski de ditador, a Rússia cobriu o território do país invadido há três anos com 161 drones e 14 mísseis, em um dos maiores ataques da guerra.
Na manhã de quinta (20), o Kremlin elevou o tom contra a sugestão britânica de enviar uma força de paz europeia para salvaguardar a segurança de Kiev em caso de um cessar-fogo. De seu lado, a França afirmou ver "risco existencial" na crise e "o maior risco de guerra desde 1945", nas palavras do premiê François Bayrou.
Tudo isso é resultado do impacto da rixa entre Trump e Zelenski, que chegou a um ápice na quarta (19). O americano havia irritado o ucraniano ao deixar o país e a Europa de fora das negociações que abriu diretamente com Vladimir Putin para tratar do conflito e outras rusgas.
Afirmou que o presidente vivia numa "bolha desinformativa" e que não iria "vender o país", referência à oferta dos EUA de ficar com US$ 500 bilhões em minerais ucranianos em troca do apoio militar. Trump respondeu furiosamente, questionou a legitimidade de Zelenski, o chamou de ditador e exigiu que ele aceite a negociação.
O ucraniano foi defendido por aliados, como os premiês Olaf Scholz (Alemanha) e Keir Starmer (Reino Unido). Nesta quinta, o porta-voz da União Europeia, Stefan de Keersmaecker, disse: "A Ucrânia é uma democracia. A Rússia de Putin, não".
Ainda na quinta, o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Mike Waltz, manteve o tom duro em entrevista à Fox News. "Eles [ucranianos] precisam baixar o tom e dar uma boa olhada e assinar aquele acordo", disse, em referência à cessão de minerais aos EUA. Ele afirmou que é possível chegar a um acordo.
O enviado de Trump para a região, Keith Kellogg, encontrou-se com Zelenski.
O Kremlin manteve a pressão com seu ataque noturno, que mirou instalações de gás em Kharkiv (norte do país) e uma estação energética na região de Odessa (sul), que feriram ao menos uma pessoa. Foi o segundo mega-ataque da semana, desenhado para manter pressão sobre Kiev, que disse ter derrubado 80 drones.