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Discurso de ódio na internet

Por Gustavo Soares (Folhapress)

O período de cerca de seis meses que sucedeu a compra do Twitter (hoje X) por Elon Musk, entre outubro de 2022 e maio de 2023, foi marcado por um aumento substancial do discurso de ódio e pela persistência da presença de contas inautênticas na plataforma. Esse é o resultado de um estudo da Universidade da Califórnia em Berkeley e publicado na quarta (12) na revista científica Plos One.

A análise aponta que a frequência de posts considerados racistas, homofóbicos e transfóbicos na rede social foi em média 50% maior do que nos meses que antecederam a aquisição. Já o número de robôs e outros tipos de contas falsas, um dos principais alvos do bilionário na época, não foi reduzido e pode até ter aumentado.

Embora outros estudos já apresentassem resultados semelhantes para essas áreas no período imediatamente depois da conclusão da compra, a pesquisa liderada por Daniel Hickey mostra que o pico persistiu nos meses seguintes.

A análise envolveu publicações realizadas em inglês na plataforma entre janeiro de 2022 e junho de 2023, quando Linda Yaccarino substituiu Musk no posto de CEO.

Para classificar publicações como discurso de ódio, os pesquisadores usaram um modelo de reconhecimento de linguagem que identifica se um comentário é "rude, desrespeitoso ou despropositado, provável de fazer alguém deixar uma discussão", aliando o uso de ofensas direcionadas com o teor e a intenção do comentário.

Isso evitou, por exemplo, que a amostra abrangesse posts educativos ou pornográficos com palavras consideradas ofensivas por minorias. Não foi possível, contudo, mensurar os efeitos sobre o discurso de ódio "coberto", de linguagem codificada.

A média semanal de posts identificados como discurso de ódio era de 2.179 antes da aquisição por Musk, e saltou 50% para 3.246. A maior variação ocorreu para comentários transfóbicos, com 260%, seguido pelos posts racistas (42%) e homofóbicos (30%). A variação média superou o aumento de atividade na plataforma no período, de 8%. Também foi observado um crescimento de 70% no engajamento com esse tipo de publicação.

Isso sugere que usuários foram mais expostos a comentários de ódio no período a despeito da política "freedom of speech, not reach" [liberdade de expressão, não de alcance] do X. Procurada para comentar o estudo, a plataforma não respondeu até a publicação desta reportagem.