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China quer fazer 'trem voador' de 1.000 km/h

A tecnologia maglev, de levitação magnética, tem mais de um século. Dezenas de iniciativas comerciais foram lançadas e abandonadas desde então, da Europa à Ásia. A mais bem-sucedida, uma linha entre o centro de Xangai e o aeroporto de Pudong, completou 20 anos em 2024, porém sua ampliação até Hangzhou vem sendo adiada pelo avanço do trem-bala.

As pesquisas não pararam, desenvolvendo e integrando duas outras tecnologias-chave para viabilizar o que Wang Peng, da Academia de Ciências Sociais de Pequim, chama de "trem de ultra-alta velocidade" - e vem sendo popularizado como "trem voador". Outro nome é "hyperloop", lançado por Elon Musk num estudo da Tesla em 2013, para um trem semelhante, hoje abandonado.

Os testes realizados com o "trem voador" ao longo de 2024 pelos engenheiros da Casic (Corporação de Ciência e Indústria Aeroespacial da China) "causaram sensação em escala global por causa das inovações", segundo Wang -destacando que seus direitos de propriedade intelectual estão vinculados ao país. São duas: a tecnologia supercondutora de alta temperatura, não baixa como buscada até então, e a tecnologia de tubulação a quase vácuo.

Após o teste mais recente, num túnel de 2 km completado no final de 2023 em Datong, a Casic evitou divulgar a velocidade atingida. Anunciou apenas que havia superado os 623 km/h de fevereiro passado e que tem capacidade para 1.000 km/h, equivalente ou pouco acima da velocidade na aviação comercial. A estatal acrescentou que, com o tempo, ele pode chegar a 4.000 km/h. "Imagine viajar do RJ a Salvador em meia hora!", escreveu a conta de Instagram da Embaixada da China no Brasil.

O especialista David Feng, que acompanhou a ascensão ferroviária da China nas últimas décadas, prevê a entrada em operação comercial só daqui a dez anos e com velocidade limitada.

"Ainda está em estágio muito, muito inicial", diz ele. Mas salienta que o projeto levará adiante uma "revolução urgentemente necessária nesta era de crise climática: se você pode chegar lá de trem, acabam-se os voos poluidores".

Por Nelson de Sá (Folhapress)