Para a surpresa de ninguém, Aleksandr Lukachenko foi reeleito em uma eleição farsesca para mais cinco anos à frente da Belarus. "O último ditador da Europa", como ele gosta de ser chamado, está no poder há 31 anos e teve, segundo pesquisa estatal de boca de urna, 87,6% dos votos
A natureza de seu domínio sobre a nação eslava de 9 milhões habitantes, contudo, mudou. De um aliado inconstante de Moscou, Lukachenko tornou-se um cão de guarda na fronteira oeste de Vladimir Putin, o verdadeiro poder no país.
O líder não se abala com as acusações amplamente documentadas de que prendeu talvez 65 mil pessoas desde a eleição de 2020, na qual uma candidata abertamente de oposição, Svetlana Tikhanovskaia, concorreu em nome do marido banido.
Oficialmente, ela teve só 10% dos votos, mas houve fraudes maciças relatadas. Ela acabou por sair do país. Lukachenko apresentou sua versão dos fatos em uma entrevista de 4h20min durante o dia de votação.
Questionado sobre a lisura do pleito, ele disse: "Alguns escolheram a prisão, outros escolheram o exílio, como você [jornalista] diz. Nós não chutamos ninguém para fora do país, e a prisão é para pessoas que abriram demais a boca, para ser franco, aqueles que quebraram a lei".
Como é comum em ditaduras que usam verniz eleitoral eventualmente, a Comissão Eleitoral de Belarus disse que mais de 80% da população participou do pleito. Lukachenko disputou com quatro candidatos anódinos, tirados de sua fileira de apoiadores.
De forma previsível, o Ocidente chamou o pleito de vergonhoso, como disse a chefe da diplomacia da União Europeia, a estoniana Kaja Kallas.Tikhanovskaia falou que a eleição era meramente o "ritual de um ditador".
Por Igor Gielow (Folhapress)