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ONU adia reunião sobre hospedagem da COP30 e impasse continua

Obras em Belém para a COP 30 incluem grandes hotéis, Parque da Cidade e Porto na Ilha de Outeiro | Foto: Edivaldo Sodre?/Ag. Pará

A reunião virtual entre o escritório do clima da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Secretaria Extraordinária da COP30, prevista para o dia 11 de agosto, foi adiada para quinta-feira (14). O encontro discutiria um dos temas mais sensíveis da conferência — a alta dos preços da hospedagem em Belém (PA), sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, entre os dias 10 e 21 de novembro.

O adiamento ocorre em meio a críticas sobre os altos preços praticados por meios de hospedagem, situação que gerou manifestações de países menos desenvolvidos e levantou preocupação sobre a representatividade do evento.

Setores empresariais articulam um manifesto contra as condições oferecidas, enquanto países africanos e europeus sugeriram até a mudança de sede. A pressão se justifica, já que para validar acordos climáticos, é necessária a presença de, ao menos, dois terços dos 198 países signatários.

O ministro do Turismo, Celso Sabino, esteve em Belém no início de agosto e garantiu que o Governo Federal tem trabalhado para que não haja qualquer tipo de empecilho para realização da conferência. Em entrevista à Agência Brasil, Sabino destacou que o governo investiu mais de R$ 4 bilhões em obras na cidade em razão do evento. Segundo o chefe da pasta, o argumento de que os preços cobrados na capital paraense são impraticáveis está sendo mitigado e absolutamente superado.

"Estamos com milhares de leitos que vão ficar prontos em agosto. Alguns ainda nem começaram a ser disponibilizados. O governo está atuando fortemente para que não haja nenhum argumento - inclusive esse de que não há leitos e de que os preços estão exorbitantes. Visitei hotéis que serão entregues com diárias de R$ 2 mil ou R$ 3 mil", disse. "Além disso, vai haver preços subsidiados para delegações de países com pouco poder aquisitivo", completa Sabino.

O ministro defende que os aportes irão deixar um grande legado para o Pará, especialmente para a região metropolitana de Belém. Segundo Sabino, além de grandes hotéis (de até seis estrelas), serão entregues o Parque da Cidade, o porto na Ilha de Outeiro, que vai abrigar os navios que vão servir de acomodações para muitas delegações, onde está sendo investido R$ 180 milhões, além de R$ 400 milhões no novo aeroporto, que deve ser inaugurado no dia 29 de agosto.

Segundo os organizadores, a rede hoteleira local conta com cerca de 15 mil leitos, número que supera em cerca de 3 mil a demanda estimada para o evento - 50 mil participantes. Para ampliar a capacidade, o governo contratou os navios de cruzeiro MSC Seaview e Costa Diadema, que juntos oferecem 3,9 mil cabines, ao custo de R$ 263 milhões. Também foram adaptadas escolas no padrão hostel e construída a Vila COP30 para chefes de Estado.

O plano de acomodação prevê prioridade para as delegações que participarão diretamente das negociações oficiais. Em sua primeira fase, foram reservados 2,5 mil quartos com tarifas fixadas entre US$ 100 e US$ 600 para as delegações dos 196 países participantes. Desde o lançamento da plataforma oficial de hospedagem, em 1º de agosto, mais de 3,1 mil quartos adicionais foram disponibilizados, e a expectativa é de que novas unidades sejam incluídas diariamente.

De acordo com a Embratur, as acomodações serão ofertadas por etapas, com diárias entre US$ 220 e US$ 600. A organização do evento reforça que dois terços das vagas serão direcionadas a países menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares, de acordo com as diretrizes da ONU.

Apesar do impasse, a ONU já aprovou, por meio de inspeções do Departamento de Salvaguarda e Segurança (UNDSS), os planos operacionais de segurança, transporte/mobilidade e saúde apresentados pelos governos federal, estadual e municipal.

A operação de segurança prevê a atuação integrada de mais de 10 mil agentes e militares, incluindo Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Exército, Gabinete de Segurança Institucional e órgãos de segurança estaduais e municipais.

Nesta terça-feira(12), o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, publicou uma carta aberta em que pede que a comunidade internacional compareça à Belém e prestigie o evento.

"A presidência da COP30 convida a comunidade internacional a fazer de Belém um ritual de passagem para marcar e celebrar com sobriedade a nossa transição para um futuro mais promissor e próspero", diz o texto da carta.

O desafio agora é evitar que a crise instaurada pelos meios de hospedagem afete a legitimidade da conferência.

A expectativa é que a reunião de quinta-feira resulte em medidas concretas para conter a especulação de preços e garantir a participação plena das delegações — passo essencial para que a COP30 cumpra sua promessa de ser a mais representativa da história das negociações climáticas.