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Região do Cariri, a identidade cearense

O Cariri é uma região composta por pelo menos 29 cidades do Ceará e outras espalhadas entre Pernambuco e Piauí. Suas principais cidades — Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha — formam a região conhecida como Crajubar.

Em Juazeiro do Norte viveram personagens centrais do catolicismo popular: Maria de Araújo, mulher negra testemunha do milagre da hóstia que teria se transformado em sangue por 47 vezes em sua boca; e Padre Cícero, suspenso das ordens em 1892 e hoje em processo de beatificação.

Cerca de 20 km ao sul de Juazeiro fica Barbalha. É de lá, no Complexo Ambiental Mirante do Caldas, que se tem a melhor vista da chapada. De quarta a domingo, um outro teleférico, de 540 metros leva ao alto do mirante, envolto pela Floresta Nacional do Araripe-Apodi — a mais antiga do país, e lar do soldadinho-do-araripe, ave endêmica e ameaçada. Os ingressos custam R$ 20.

É também em Barbalha que ocorre, todo mês de junho, a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio, reconhecida como patrimônio imaterial pelo Iphan. Desde 1860, a mais tradicional celebração da região mobiliza multidões de pessoas por ali. O povo vai acompanhando o corte, o transporte e o hasteamento do mastro, em cortejo com promessas ao santo casamenteiro.

A cerca de 20 minutos de carro a oeste de Juazeiro do Norte, chega-se ao Crato, também acessível por VLT e ônibus. É lá que estão três dos 14 museus da região. Instalados nas próprias casas dos mestres de cultura, eles oferecem aos visitantes acesso a um universo de objetos, obras e saberes que dão corpo à cultura sertaneja — que sofreu forte rejeição estética na capital durante décadas, mas hoje é a matriz da identidade cultural cearense.

Na casa do mestre Aniceto, por exemplo, estão instrumentos feito por ele e seus irmãos para a banda cabaçal da família, criada pelo avô deles em 1815, sob influência da ancestralidade dos índios kariri. Na Casa de Telma Saraiva, precursora na arte da fotografia pintada, há um riquíssimo acervo de fotopinturas da década de 1940 e também de negativos e câmeras utilizadas pelo pai da fotógrafa no começo do século 20.

Além das riquezas culturais, a região também abriga tesouros geológicos, como depósitos sedimentares repletos de fósseis, que registram em detalhes a história da separação do supercontinente Gondwana, ocorrida no período jurássico, dando origem à América do Sul e à África. As rochas sedimentares também absorvem a água da chuva e as devolve ao ambiente por inúmeras fontes cristalinas no sopé da chapada, contribuindo para impedir o avanço da desertificação no semiárido.

Jorge Silvestre (Folhapress)