Os gringos já descobriram. Subiram e desceram aquele mundão sem fim de dunas entremeadas pela vegetação de restinga. Percorreram a extensa faixa litorânea, onde compraram terras, tomaram banho na barra de rios, mergulharam em lagos de água da chuva e surfaram por seus mares ao sabor do vento incessante em praias desertas.
Vizinha de Jeri, com preços mais acessíveis e sem aquela atmosfera de turismo predatório, a cidade de Camocim, na costa oeste do Ceará, vem-se tornando a sensação para quem procura lugares ainda selvagens do litoral brasileiro.
Camocim é um dos 14 municípios que fazem parte da Rota das Emoções, roteiro turístico que percorre os estados do Ceará, do Piauí e do Maranhão. Já descoberto pelos visitantes estrangeiros, o itinerário ainda é pouco explorado por brasileiros.
Por um trajeto de mais ou menos 500 km, o visitante é envolvido por paisagens deslumbrantes, como os Lençóis Maranhenses e o Delta do Parnaíba — Camocim é, justamente, a dona do maior trecho litorâneo da rota, com aproximadamente 64 km.
Antes de mais nada, é bom que se diga: Camocim não é exatamente um destino praiano daqueles em que o turista simplesmente estende a canga na areia e passa o dia debaixo do guarda-sol curtindo só preguiça.
O tempo se divide basicamente em duas estações: a chuvosa, de janeiro a junho, e a seca, de julho a dezembro. A temporada internacional de kitesurfistas se inicia em agosto, momento de alta incidência de forasteiros estrangeiros por lá. É quando o céu passa a ser rabiscado pelas cores vivas das pipas de kitesurfe, um tipo de vela que permite o deslocamento sobre a água ao sabor do vento.
Afora o fato de oferecer condições ideais para velejar, a área é estratégica para os chamados "downwinds", como são conhecidas as práticas de velejar, geralmente em duplas ou em grupos, de um ponto ao outro da costa, acompanhados por uma equipe de apoio.
Em uma linguagem bem praieira, podemos dizer que, enquanto boa parte do Brasil vai estar sacando do guarda-roupa casacos, echarpes e moletons, a depender das maluquices climáticas, em Camocim, não tenha dúvida, vai dar praia — em julho.
Por Roberto de Oliveira (Folhapress)