Por muito tempo, a saúde masculina foi tratada com descuido e silêncio. Culturalmente, os homens tendem a procurar menos os serviços de saúde e a evitar consultas e exames de rotina. Essa resistência, muitas vezes associada a preconceito, desinformação e vergonha, ainda é uma das principais barreiras para o diagnóstico precoce do câncer de próstata. A neoplasia é o tipo de tumor mais incidente entre os homens brasileiros, depois do câncer de pele não melanoma.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa para 2025 é de 71.730 novos casos de câncer de próstata no Brasil, o que representa 30% de todos os diagnósticos de câncer na população masculina. A cada dia, cerca de 60 homens morrem pela doença no país, o que reforça a necessidade de ampliar a conscientização e combater os tabus que ainda cercam o tema.
O oncologista Márcio Almeida, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), explica que a negligência com os exames de rastreamento ainda custa caro. “Muitos pacientes chegam ao consultório quando o tumor já está avançado, porque tiveram medo ou vergonha de procurar ajuda antes. O problema é que o câncer de próstata, no início, quase nunca dá sintomas. E é justamente nessa fase que ele é mais fácil de tratar e tem índices de cura que ultrapassam 90%”, afirma o médico, que ressalta ainda que mais de 20% dos casos são diagnosticados apenas em estágios avançados, quando o tumor já se espalhou para outros órgãos e o tratamento se torna mais complexo e menos eficaz.
Os principais exames de rastreamento são o toque retal e a dosagem do PSA (Antígeno Prostático Específico). Apesar da resistência de parte da população masculina, o especialista é categórico: o toque é simples, rápido e pode ser decisivo. “O toque retal dura menos de dez segundos e pode identificar nódulos que não aparecem no exame de sangue. É um procedimento preventivo, não um tabu. O preconceito precisa ser superado com informação”, alerta.
O INCA recomenda que homens a partir dos 50 anos conversem com seus médicos sobre a necessidade dos exames preventivos. Para aqueles com histórico familiar da doença (pai, irmão ou filho diagnosticado antes dos 60 anos) ou com descendência negra, grupo que apresenta maior predisposição genética, o rastreamento deve começar aos 45 anos.
Sinais de alerta que não devem ser ignorados
Os sintomas do câncer de próstata costumam surgir apenas em fases mais avançadas. Por isso, estar atento a alterações sutis pode fazer diferença:
• Sensação de esvaziamento incompleto da bexiga;
• Dificuldade para urinar ou interromper o jato de urina;
• Necessidade de fazer força para urinar;
• Dor na parte inferior das costas ou na pelve;
• Sangue na urina ou no sêmen (mais raro);
• Dificuldade para manter ereção;
• Dor durante a ejaculação.
Outros tumores masculinos que merecem atenção: pênis e testículo
Embora menos prevalentes, os cânceres de pênis e testículo também merecem destaque neste mês de conscientização. O câncer de pênis, responsável por cerca de 2% dos casos entre homens brasileiros, é mais comum a partir dos 50 anos e está fortemente associado à má higiene íntima e à infecção pelo HPV.