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Saque-aniversário do FGTS usado para quitação de dívidas

Uma pesquisa de doutorado da EPGE Escola Brasileira de Economia e Finanças (FGV EPGE), de autoria de Arthur Sonntag Kuchenbecker e orientada pelo professor Bruno Barsanetti, investigou o impacto das reformas no sistema financeiro sobre o comportamento das famílias brasileiras. Intitulada "Essays on Applied Financial Economics", a tese reúne três ensaios que utilizam dados administrativos e métodos econométricos para medir o efeito de políticas de inovação financeira no Brasil.

O primeiro ensaio analisa o saque-aniversário do FGTS, modalidade que permite ao trabalhador retirar parte do saldo anualmente. O estudo mostra que cerca de 58% dos recursos são usados para quitar dívidas, 26% são destinados ao consumo e aproximadamente 29% para poupança voluntária. O padrão revela que muitos trabalhadores enfrentam restrições de crédito e utilizam os saques principalmente para reduzir endividamento.

O segundo ensaio avalia a expansão das cooperativas de crédito em municípios pequenos, indicando aumento expressivo do crédito rural e crescimento de cerca de 15% na produção agropecuária no longo prazo. Os ganhos decorrem de intensificação e mecanização produtiva, e não da expansão da área cultivada.

Já o terceiro ensaio examina o impacto do crédito com garantia de saques futuros, uma nova modalidade de crédito lastreada no saque-aniversário. O estudo mostra que a modalidade gera trajetórias de endividamento mais estáveis e sustentáveis em comparação aos empréstimos pessoais tradicionais, evidenciando o potencial do uso de garantias reais para ampliar o acesso ao crédito de forma mais segura para as famílias.

A tese reforça a importância de reformas institucionais bem desenhadas para promover um ambiente financeiro mais equilibrado e inclusivo. A pesquisa também foi destaque no Valor Econômico.