Uma fagulha que voa com a brisa, uma pequena faísca que surge de uma tímida brasa, mas que se espalha de forma visceral em um grande incêndio. É assim que funciona a arte. É como uma pequena fagulha na brasa que queima dentro do peito, junto ao coração. Essa fagulha voa, ela passa por diversos lugares até encontrar um lugar onde pode queimar, um lugar para começar um incêndio em conjunto. A arte vive e ressoa dentro daqueles que são salvos por ela.
Uma pequena fagulha que começou a queimar dentro da Escola Parque Anísio Teixeira, na região administrativa de Ceilândia, no Distrito Federal, foi crucial para que o legado da arte encontrasse moradia em um grupo de jovens, que na dança se encontraram sem nem saber que precisavam ser achados por ela. Assim, o Corpo Coreográfico Arte Jovem, companhia de dança do Projeto Musical Arte Jovem, nasceu, criou forma e se expande nos quatro cantos do DF nos últimos três anos.
O Projeto Musical Arte Jovem, sediado em Ceilândia (DF), atua como uma organização sem fins lucrativos com foco na promoção da arte entre crianças e adolescentes da região. Com atividades voltadas à música e à dança, o projeto busca democratizar o acesso à cultura e contribuir para o desenvolvimento humano, social e educacional dos participantes.
Oportunidades
A iniciativa atende crianças a partir de dois anos de idade, com uma metodologia estruturada por faixas etárias e baseada em experiências acumuladas por seus profissionais ao longo de mais de três décadas em projetos socioculturais diversos. O objetivo é criar oportunidades para que os alunos descubram e desenvolvam habilidades artísticas, construindo, ao mesmo tempo, vínculos com a comunidade, com a família e consigo mesmos.
O projeto é coordenado por educadores da área artística e conta com o apoio de voluntários. As atividades de dança são lideradas, atualmente, por dois professores: Lamôni Chagas e Kaillane Nascimento, que, além de lecionarem dentro do projeto, também fazem parte da companhia. Entre outros profissionais envolvidos está Inayá Campos, professora de dança pela Secretaria de Educação do Distrito Federal e uma das coreógrafas e coordenadora do Arte Jovem. Segundo ela, o projeto cumpre uma função que vai além do ensino técnico e artístico.
De acordo com Inayá, o espaço representa uma oportunidade de transformação pessoal e social para os participantes. “Muitos chegam tímidos, inseguros, e aos poucos descobrem força, autoestima e voz por meio da arte. Aqui, dança e música não são apenas linguagens estéticas, mas instrumentos de inclusão”, afirma.
Contexto
O projeto também adota uma abordagem que considera o contexto familiar e comunitário dos alunos. A proposta é que a arte funcione como ponto de apoio para a construção de trajetórias mais positivas, especialmente em territórios que enfrentam carência de políticas culturais e educacionais regulares. “É onde a arte se encontra e os talentos florescem. Um lugar onde cada passo de dança, cada nota musical, representam superação, coragem e sonho. Significa que podemos acreditar que a arte transforma o comum em algo extraordinário”.
Ao longo dos anos, o Projeto Musical Arte Jovem tem buscado se consolidar como um movimento voltado à democratização do acesso à arte. A meta é expandir as atividades para mais localidades e atender um número crescente de crianças e adolescentes, com foco em alcançar comunidades historicamente excluídas das ações culturais do Distrito Federal. Atualmente, o projeto conta com mais de 400 pessoas atendidas de forma geral e cerca de 100 alunos na área da dança.
A ideia é transformar a vivência artística em um instrumento de formação cidadã. Nesse sentido, o projeto estimula o desenvolvimento da sensibilidade, da empatia, da capacidade crítica e da criatividade. Segundo seus idealizadores, a proposta é formar indivíduos aptos a compreender e interagir com o mundo de maneira construtiva e colaborativa. “Aqui, a dança e a música não são apenas linguagens estéticas, são instrumentos de desenvolvimento humano e inclusão. A transformação acontece quando o aluno percebe que é capaz e que a partir daquele momento ele pode trilhar um futuro de sucesso”, acrescenta Inayá.
A atuação do Arte Jovem também se estende à realização de apresentações públicas em espaços culturais, escolas e eventos comunitários. Essas atividades funcionam como culminância dos processos de ensino, ao mesmo tempo em que ampliam a visibilidade do projeto e reforçam o vínculo dos participantes com o território onde vivem. A metodologia aplicada é constantemente revista e adaptada à realidade dos alunos, mantendo como referência a experiência acumulada pelos profissionais em outros projetos de educação artística e social. A prática coletiva, o acompanhamento individual e a valorização das trajetórias pessoais são componentes centrais na condução das atividades.
Gratuito
O projeto não cobra mensalidade e mantém suas ações por meio de doações, parcerias institucionais e apoio de voluntários. As vagas são abertas periodicamente, de acordo com a capacidade de atendimento e a disponibilidade de professores. Para participar, os responsáveis pelas crianças precisam comparecer à sede do projeto durante os períodos de matrícula, com a documentação necessária.
A proposta pedagógica valoriza o processo de aprendizagem tanto quanto os resultados. Os alunos são incentivados a experimentar diferentes linguagens e a desenvolver autonomia na prática artística. A avaliação é feita com base na participação, no engajamento e no respeito às etapas de aprendizagem de cada criança. Segundo a equipe do projeto, um dos principais desafios está na manutenção dos recursos financeiros e na ampliação da estrutura física para atender a demanda crescente. Apesar das limitações, o grupo aposta na força da comunidade e no impacto positivo do trabalho para seguir atuando como ferramenta de transformação social.
“O Arte Jovem quer ser um movimento e instituto que democratiza o acesso à arte. Quer chegar a mais corações, mais comunidades e mais histórias. Busca se consolidar como uma ferramenta social de cultura, que forma cidadãos sensíveis, críticos e criativos, capazes de enxergar o mundo com empatia e beleza. Porque esse é o poder da arte”, explica Inayá.
Desde o início da formação, o projeto oferece musicalização infantil na turma baby, voltada a crianças com idade a partir de dois anos. Nessa fase, o trabalho é centrado no despertar do interesse pela música por meio de brincadeiras sonoras e atividades lúdicas. Aos cinco anos, os alunos já podem ingressar nas turmas de dança, onde têm acesso a noções de consciência corporal, expressão, criação e reflexão por meio do movimento, e assim por diante.
Esses estudos culminam na participação dos alunos em duas formações musicais principais: a Orquestra Iniciante e a Orquestra Principal Arte Jovem. Ambas funcionam como espaço de prática coletiva e também como vitrine para apresentações públicas realizadas ao longo do ano. O repertório das orquestras inclui músicas populares, temas clássicos e arranjos adaptados às formações específicas de cada grupo.
O Projeto Musical Arte Jovem mantém canais de comunicação para divulgação de atividades e para receber doações e apoio. Interessados em contribuir podem entrar em contato diretamente com a equipe gestora. O projeto está em busca de novos parceiros para ampliar suas ações e beneficiar um número maior de crianças e adolescentes no Distrito Federal.