Por Pedro Sobreiro
A CBF apresentou oficialmente um projeto que promete mudar o futebol brasileiro de uma vez por todas. Se para melhor ou para pior, só o tempo dirá. Mas, por enquanto, dá para cravar que as temporadas 2026 e 2027 terão futebol para cansar até os mais apaixonados pelo esporte.
Nesta quarta-feira (1º), na sede da CBF, na Barra da Tijuca - zona Sudoeste do Rio de Janeiro, o presidente da entidade, Samir Xaud, fez o anúncio de como funcionará a temporada do próximo ano, que contará com a parada para a Copa do Mundo FIFA, que será disputada entre 11 de junho e 19 de julho de 2026, e também para 2027, que terá a parada para a Copa do Mundo Feminina de Futebol FIFA, que será sediada no Brasil em 2027.
A mudança inclui os campeonatos estaduais, que serão reduzidos, os torneios interestaduais e as duas principais competições do país: o Brasileirão e a Copa do Brasil.
Estaduais
A reformulação dos estaduais não era novidade, mas foi confirmada agora pela CBF. Eles terão início em 11 de janeiro e terminarão em 8 de março. Com isso, as federações estaduais poderão fazer partidas em 11 datas, no máximo. Na rodada final, haverá um intervalo de uma semana no Brasileirão.
É um avanço importante, já que a redução dos campeonatos estaduais era um desejo antigo de torcedores e dirigentes de diversos clubes do país.
Copas Interestaduais
Outra novidade foi o remanejamento e criação de Copas Interestaduais. A mais bem-sucedida do país, a Copa do Nordeste - que esteve próxima de ser excluída do calendário oficial - será realizada entre 25 de março e 7 de junho. O torneio terá 20 equipes, um aumento de quatro times em relação à edição de 2025, e será realizada em 10 datas, no máximo.
O mesmo vale para a Copa Verde, que será realizada no mesmo período, mas terá um jeitão de "Campeonato Carioca dos tempos áureos". Reunindo clubes do Norte e do Centro-oeste do Brasil, o torneio terá 24 equipes e será dividido entre Copa Norte e Copa Centro-Oeste. Os campeões se enfrentarão na final da Copa Verde.
Por fim, a nova competição promete mexer com o "eixo" do futebol brasileiro. A Copa Sul-Sudeste também ocorrerá no mesmo período e será composta por 12 equipes, duas para cada estado. No entanto, o Espírito Santo foi excluído do Sudeste, sendo remanejado para jogar a Copa Centro-Oeste, então as vagas serão divididas entre Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Vale ressaltar que as equipes que estiverem classificadas para competições oficiais da Conmebol, como a Copa Libertadores e a Copa Sul-Americana, não poderão disputar os interestaduais.
Brasileirão Série A
Na elite do futebol, a mudança foi brusca. O Brasileirão 2026 terá início em 28 de janeiro e terminará apenas em 2 de dezembro de 2026. O formato seguirá de pontos corridos, mas as partidas iniciais ocorrerão em conjunto com os estaduais e interestaduais. Com isso, acaba aquela história de equipes pouparem jogadores para os primeiros jogos do ano. Será uma maratona intensa de partidas.
Copa do Brasil
Torneio de maior premiação do continente, a Copa do Brasil foi completamente reformulada. Com as mudanças, ela terá início em 18 de fevereiro e terminará em 6 de dezembro de 2026, encerrando o calendário oficial do ano. Se a edição atual contou com 92 participantes, a de 2026 contará com 126 equipes classificadas. O critério de classificação dá vaga a todas as equipes da série A, com outras 102 vagas provenientes dos campeonatos estaduais. As últimas quatro vagas serão destinadas aos campeões das Séries C e D do Brasileirão, e das Copas do Verde e do Nordeste. Esses classificados entrarão apenas na terceira fase do torneio.
Essa é outra novidade. Com o aumento de equipes, haverá novas fases na Copa do Brasil. Serão quatro fases iniciais decididas em jogos únicos. As equipes da Série A entrarão apenas na quinta fase, que começará após a Copa do Mundo FIFA. Da quinta fase até as semifinais, os jogos serão decididos em partidas de ida e de volta, até chegar ao ponto mais polêmico dessa reformulação: a final única.
Sim, a CBF optou por introduzir a final única na Copa do Brasil. A partida será disputada em uma sede neutra, que será escolhida com base na logística e infraestrutura. A ideia é escolher estádios modernos, em estados em que seja permitida por lei a realização de partidas com torcidas mistas; que tenha boa estrutura de transportes e uma rede hoteleira capaz de comportar um evento deste nível.
Com esses requisitos, cidades como São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo, não poderão concorrer à finalíssima, já que não permitem jogos com torcida dividida.
Além disso, haverá cerca de um mês de intervalo entre os jogos de volta das semifinais e a grande final, permitindo que as duas torcidas programem com um pouco mais de calma as viagens para a finalíssima.
Série B
A temida Série B manterá seu formato de pontos corridos, com o mesmo número de equipes, mas também será mais longa, tendo início em 28 de fevereiro e terminando em 28 de novembro de 2026.
Série C
A terceira divisão nacional passará por mudanças entre 2026 e 2028. A edição de 2026 começará em 5 de abril e terminará em 25 de outubro, mantendo o mesmo formato atual, com 20 clubes se enfrentando em 19 jogos. Os oito melhores colocados dos pontos corridos se enfrentarão em dois torneios quadrangulares, com os dois melhores colocados de cada chave ascendendo à Série B. A mudança maior é no rebaixamento. Serão apenas dois rebaixados em vez dos quatro deste ano.
Porém, em 2027, serão seis equipes que subirão da série D, totalizando 24 times. Apesar desse aumento, o formato de disputa será mantido, incluindo o número de rebaixados.
A situação mudará mesmo em 2028, quando o torneio passará a rebaixar seis equipes por ano - o mesmo número de equipes que subirão da Série D - para manter o número anual de 24 times no torneio.
Série D
Por fim, a série D será completamente reformulada. Em vez de 64, serão 96 equipes participantes. O torneio terá início em 5 de abril e terminará em 13 de setembro. Serão 610 partidas, que começarão com um formato de pontos corridos, composto por 16 grupos com seis integrantes, cada, que jogarão partidas de ida e volta. Os quatro melhores colocados de cada grupo avançarão para a segunda fase, que também será decidida com jogos de ida e volta. Os classificados farão novos jogos de ida e volta na terceira fase. Os times que se classificarem até aqui garantirão participação direta na Série D do ano seguinte.
As oitavas e quartas de final também serão disputadas no formato de jogos de ida e volta. Haverá também um playoff entre as equipes eliminadas nas quartas, que disputarão esse mata-mata valendo duas vagas na Série C do ano seguinte.
As semifinais também serão decididas em jogos de ida e volta, e quem chegar até elas terá vaga garantida na Série C do ano seguinte. Da mesma forma, a final será decidida em dois jogos. O grande campeão ganha o direito de estrear na Copa do Brasil apenas na terceira fase do torneio.
Foco na Seleção
Com o novo calendário, a Seleção Brasileira terá prioridade na CBF, cuja meta do próximo biênio são as conquistas das Copas do Mundo masculina e feminina.
Ainda assim, essas mudanças exigirão um adiantamento dos planejamentos de contratação das diretorias das equipes brasileiras. Não apenas as da Série A, que devem se lançar ao mercado imediatamente atrás de reforços para a próxima temporada, mas principalmente das equipes das divisões inferiores, que terão de encontrar formas para a manutenção de elencos por temporadas inteiras, em vez de alguns poucos meses, como acontecia quando tinham apenas os estaduais e nacionais de mata-mata na disputa.
A longo prazo, porém, essa mudança pode instaurar mesmo a organização e o profissionalismo no cenário desportivo nacional. É questão de aguardar e ver se as equipes vão corresponder.