Por Jorge Vasconcelos
Desde o último dia 5, o advogado e assessor parlamentar Eduardo Nonato de Oliveira está lotado no gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que segue nos Estados Unidos articulando sanções contra o Brasil e autoridades brasileiras. Como ocupante de Cargo em Comissão de Natureza Especial (CNE), ele tem direito a um salário de R$ 23.732,92, o maior entre os nove assessores da equipe. Nas redes sociais, o funcionário pago com dinheiro público é um ferrenho defensor das sanções impostas pelo presidente Donald Trump ao Brasil, como a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
Nonato vai engrossar os gastos da Câmara com assessores e outras despesas do gabinete de Eduardo Bolsonaro. Entre março e julho, período em que o parlamentar já estava nos EUA, foram despendidos dos cofres públicos bem mais que os cerca de R$ 500 mil revelados com exclusividade pelo Correio no último dia 2. Conforme atualização realizada pela Câmara, com a inclusão dos números de maio no sistema, a pedido da reportagem, o total de gastos nesse período sobe para R$ 662.239,8.
Essas despesas devem aumentar a cada mês enquanto a Câmara não se mexer ante os pedidos de cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro, que o acusam de quebra do decoro parlamentar por usar o cargo público para conspirar contra os interesses do próprio país.
No perfil de Eduardo Nonato de Oliveira no Linkedin, ele se apresenta como 'Advogado, Assessor Parlamentar na Câmara dos Deputados'. Diz que, desde 1996, trabalha na Assessoria Legislativa, Orçamentária e na função de Chefia de Gabinete.
Ainda conforme o perfil, entre as atividades já desempenhadas estão o acompanhamento das emendas e projetos junto aos ministérios, contato com prefeitos e assessores para agilizar o trâmite de emendas e projetos. Em 2014, foi designado chefe de Gabinete da Presidência da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional. O perfil no Linkedin não cita o trabalho no gabinete de Eduardo Bolsonaro.
De acordo com o Boletim Administrativo da Câmara dos Deputados nº 56, 24/3/2025, Eduardo Nonato de Oliveira foi lotado no gabinete da Liderança do PL, chefiado pelo deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), em 20 de março deste ano - quatro meses e meio antes de ser transferido para a equipe de Eduardo Bolsonaro.
O Correio da Manhã contato com a Assessoria de Imprensa de Eduardo Bolsonaro, mas não houve respostas para as perguntas enviadas.
Uma delas é sobre as atividades desempenhadas por Eduardo Nonato de Oliveira no gabinete do deputado. Outra pergunta confronta a atuação do parlamentar contra o Brasil e seu discurso em defesa do patriotismo. O espaço está aberto para manifestações.
Atuação contra o Brasil
Na falta de informações sobre as atividades desempenhadas por Eduardo Nonato de Oliveira no novo emprego, restou saber como ele se comporta nas plataformas digitais.
Nonato tem um perfil no Instagram, o @eduardooliveira1974, com 3.342 seguidores. Entre publicações com mensagens cristãs e de caráter familiar, em que aparece, inclusive, vestindo uma camisa estampada com a bandeira dos Estados Unidos, há várias que refletem a proximidade do assessor parlamentar com Jair Bolsonaro, um antipetismo exacerbado e também um engajamento com a saga antipatriótica de Eduardo Bolsonaro.
Em 19 de março, um dia após Eduardo Bolsonaro anunciar que pediria uma licença parlamentar de 120 dias para permanecer nos Estados Unidos, Nonato postou uma foto ao lado do deputado, com uma mensagem de apoio.
"Um dia todos entenderão a sua decisão. Nunca foi deixar para trás tudo aquilo que conquistou mas brigar, até as últimas consequências, por aquilo que não podemos abrir mão. A NOSSA LIBERDADE. @bolsonarosp (Eduardo Bolsonaro), vai um trecho de uma canção que escutamos muito aqui na nossa igreja: A marcha é dura, forte o sol, lento o caminhar…. Fique com Deus, contem sempre conosco e até a volta. Não parar, não precipitar, não retroceder. Isso é tudo", escreveu Nonato.
"Estaremos de volta em 2026. Força, fé e foco", escreveu Eduardo Nonato de Oliveira em uma outra postagem, de 22 de novembro de 2024, na qual compartilha uma foto dele ao lado de Jair Bolsonaro.
Dez razões
Já em 11 de julho, dois dias depois de Donald Trump enviar carta ao presidente Lula (PT) anunciando a decisão de tarifar em 50% os produtos brasileiros, o assessor de Eduardo Bolsonaro publicou um vídeo que começa com a imagem do presidente dos EUA, seguida da seguinte frase: "Eu te dou 10 razões". O vídeo também cita posicionamentos geopolíticos de Lula para mostrá-lo como responsável pelo tarifaço.
Washington
A licença de 120 dias de Eduardo Bolsonaro terminou em 20 de julho, mas ele não dá sinais de que voltará ao Brasil. Caso falte a mais de um terço das sessões do plenário da Câmara deste ano, o deputado pode perder o mandato.
O parlamentar tem comemorado medidas agressivas anunciadas pelo governo dos EUA contra o Brasil, como a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e a aplicação da Lei Magnitsky com sanções financeiras contra o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo sobre tentativa de golpe, no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é réu.
Conforme a CNN Brasil, Eduardo Bolsonaro foi convidado a participar, em Washington, nesta semana, de reunião com auxiliares de Donald Trump com o objetivo de atualizar a situação política no Brasil. Segundo a CNN, também foi convidado o seu principal aliado nessa empreitada contra o Brasil, o jornalista Paulo Figueiredo, neto do general João Figueiredo, último presidente da República da ditadura militar.
Gastos atualizados
Antes de publicar a matéria do último dia 2, o Correio alertou a Assessoria de Imprensa da Câmara que faltavam dados sobre gastos com verbas de gabinete do mês de maio, de Eduardo e de outros deputados. No caso de Eduardo, em relação ao período em que ele já encontrava nos Estados Unidos, estavam disponíveis apenas informações sobre os meses de março (R$ 132.185,36), abril (R$ 132.399,08), junho (R$ 132.399,08) e julho (R$ 132.857,20), totalizando R$ 529.840,72.
Na semana passada, após a publicação da reportagem, a Assessoria de Imprensa da Câmara fez contato com o Correio para informar que os dados de maio haviam sido incluídos no sistema. No caso de Eduardo, o gasto com verba de gabinete em maio foi de R$ 132.399,08. Dessa forma, o valor total chega a R$ 662.239,8.
Conforme o site da Câmara, cada deputado recebe mensalmente R$ 111.675,59 para contratar até 25 secretários parlamentares. Esse valor tem sido gasto por Eduardo Bolsonaro com apenas nove assessores, cujos salários variam de R$ 7.508,24 a R$ 23.732,92 - este valor mais alto será pago a Eduardo Nonato de Oliveira.
"Danos ao Brasil"
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou, na segunda-feira (11), ser contrário às ações de Eduardo Bolsonaro, que, segundo ele, causam "danos" ao Brasil.
"Não posso concordar com um parlamentar que está trabalhando fora do seu país de origem para que medidas cheguem ao seu país de origem com danos. Isso não pode ser admitido, nós temos uma posição contrária a esse tipo de comportamento, o deputado poderia estar defendendo o que acredita, o Bolsonaro, mas não o seu país sendo prejudicado", disse Motta, em entrevista à Veja.
Para o presidente da Câmara, Eduardo Bolsonaro não age conforme as atribuições de um congressista brasileiro e, mesmo nos EUA, "será tratado como qualquer outro parlamentar".
Apesar dessas palavras duras, no entanto, Motta não deu qualquer sinal em relação ao destino dos pedidos de cassação do parlamentar.