As doenças cardiovasculares permanecem sendo a principal causa de morte no país e no mundo. Somente no Brasil são registrados 400 mil óbitos anualmente, o que equivale a uma morte a cada 90 segundos devido a problemas no coração. Entre as condições mais fatais estão a Doença Arterial Coronariana (DAC) e o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Frente a esse cenário, a Rede D'Or vai reunir alguns dos principais cardiologistas do país, além de convidados internacionais, para debater as mais recentes novidades na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças cardíacas no Congresso Internacional de Cardiologia, que acontecerá de 07 a 09 de agosto no Windsor Barra Hotel, na Barra da Tijuca.
Em entrevista ao Correio da Manhã, a diretora de Cardiologia da Rede D'Or, Olga Souza, conta as expectativas para o evento que deve receber mais de 7 mil pessoas.
Correio da Manhã: O que se pode esperar da edição do Congresso de Cardiologia deste ano?
Drª Olga Souza: O ponto alto do congresso será a exposição de inovações tecnológicas que têm surgido na área da cardiologia. Novas tecnologias e novos medicamentos prometem revolucionar a forma como diagnosticamos e tratamos doenças do coração. Profissionais da saúde terão a oportunidade de se atualizar sobre as últimas pesquisas, inovações e práticas recomendadas, reconhecendo a importância da tecnologia no enfrentamento dessa epidemia.
A programação vai abarcar as principais questões da cardiologia na atualidade, como a cardiopatia congênita, a insuficiência cardíaca, a cárdio-oncologia Serão cerca de 172 palestrantes, inclusive convidados internacionais. No segundo dia de Congresso, por exemplo, teremos a diretora de Cardio-Oncologia e professora de Medicina da Universidade de Rochester (NY), Susan Dent. Ela também é presidente da Sociedade Internacional de Cardio-Oncologia e vai participar de uma mesa sobre uso de inteligência artificial. Outro nome confirmado é o professor de Harvard e especialista em Terapia Intensiva Cardíaca, David Morrow. Ele vai falar sobre a evolução dos cuidados ao paciente cardiológico crítico.
CM: Vocês registraram um crescimento de 40% no número de inscritos em comparação com 2024. Isso significa que há uma forte demanda por eventos médicos?
OS: A medicina tem registrados avanços em uma enorme velocidade. Todo mês saem publicações inéditas com estudos sobres novos medicamentos e tratamentos. E a participação em congressos e simpósios é uma excelente oportunidade para se atualizar. No caso do nosso congresso, a interatividade das mesas têm sido um diferencial. As pessoas gostam de se envolver no debate dos casos clínicos que são apresentados. Isso promove um intercâmbio de conhecimento que enriquece a formação dos profissionais.
CM: Tem se visto casos frequentes de infarto em pessoas abaixo dos 50 anos. Isso tem preocupado os cardiologistas?
OS: Sim. Isso é algo que temos visto com frequência nas emergências e temos alertado os pacientes nos consultórios. Em certo aspecto, vivemos uma contradição. Por um lado, o de cirurgias e tratamento tem proporcionado melhorar a qualidade de vida dos idosos, mas não há um reflexo semelhante entre a parcela mais jovem da população. Isso se deve, principalmente, ao estilo de vida inadequado, com a falta de atividade física regular e de uma alimentação equilibrada. Há inúmeros estudos que mostram o impacto disso na saúde das pessoas. A Organização Mundial de Saúde reconhece que há uma epidemia global de obesidade. Em 2022, segundo a OMS, 1 em cada 8 pessoas no mundo era obesa. No Brasil, levantamento do Ministério da Saúde aponta que quase 35% da população está com algum nível de obesidade. São números preocupantes, pois falamos de um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares.
CM: Mudar o estilo de vida das pessoas é hoje o principal desafio dos cardiologistas?
OS: Com certeza é um dos principais desafios da saúde no mundo. A obesidade, por exemplo, também é fator de risco para vários tipos de câncer. Um relatório da Organização Mundial de Saúde aponta que o sedentarismo pode levar 500 milhões de pessoas a desenvolverem doenças cardíacas, obesidade, diabetes e outras doenças não transmissíveis até 2030.
CM: Então é preciso intensificar campanhas sobre adoção de hábitos saudáveis?
OS: Sem dúvida nenhuma. E precisamos lidar com desafios que não existiam no passado, como o tempo de exposição a telas, que tem sido associado ao aumento de obesidade. É um fator bem estabelecido desde a infância, passando pela adolescência e chegando a adultos jovens. Uma das mensagens centrais do Congresso é justamente de que a educação em saúde é uma ferramenta poderosa na luta contra as doenças cardiovasculares. É preciso levar informação qualificada e de fácil entendimento à população.
CM: Você observou que a medicina tem proporcionado melhores tratamentos aos idosos. No entanto, também é esperado que tenha maior caso de certas doenças do coração com o aumento da longevidade.
OS: Sim. Devemos comemorar que estamos vivendo mais, mas também exige uma atenção cada vez maior com a saúde, para que possamos ter qualidade de vida. Conforme o avançar da idade, é esperado uma degeneração das quatro válvulas, que garantem a circulação correta do sangue. Um mau funcionamento pode exigir que o coração faça um esforço maior para bombear o sangue. Estudos indicam, por exemplo, que de 3% a 5% da população com mais de 65 anos pode apresentar algum grau de comprometimento da válvula aórtica, que controla o fluxo sanguíneo para a aorta , principal artéria que leva sangue oxigenado para o corpo. A tendência é que os casos de degeneração de válvulas cardíacas aumentem. Felizmente, com as técnicas minimamente invasivas que temos hoje, conseguimos tratar pacientes que antes eram considerados inoperáveis e devolver qualidade de vida a eles.