Por: Redação

Oncologista alerta sobre maior incidência de câncer de mama em mulheres jovens e mudanças no tratamento nos últimos anos

Gilberto Amorim ressalta que 40% dos casos de câncer de mama têm sido em mulheres abaixo dos 50 anos | Foto: Divulgação

O câncer de mama é a principal causa de mortes por tumores em mulheres no Brasil, de acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer). Ocorreram 19 mil mortes em 2022, segundo o instituto, e são estimados 73.610 casos novos em 2025. Os números ressaltam a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e de hábitos de vida saudáveis, enfatiza o oncologista Gilberto Amorim, da Oncologia D'Or, com mais de 20 anos de experiência no cuidado do câncer de mama. Ele também é membro titular da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia).

Nesta entrevista, Gilberto Amorim destaca que mulheres mais jovens estão sendo diagnosticadas com maior frequência, a evolução e mudanças do tratamento nos últimos anos e também alerta sobre o uso indiscriminado de testosterona para fins estéticos, que pode ser um fator de alto risco, entre outros aspectos abordados.

CM - Muitas pessoas ainda têm o senso comum que o câncer de mama acomete mulheres em uma fase mais idosa da vida. Entretanto, há indicações que o cenário mudou. Qual é o panorama atual?

GILBERTO AMORIM - De fato, diversos estudos nos últimos anos, no Brasil e no exterior, estão mostrando que mulheres mais jovens, com menos de 40 anos, são diagnosticadas com a doença. O câncer de mama não é mais considerado uma doença "de gente idosa". Atualmente, cerca de 40% dos casos aparecem em mulheres com menos de 50 anos.

CM - Quais são os principais fatores que contribuem para a incidência maior em mulheres jovens?

GILBERTO AMORIM - São diversas causas. As mulheres, ao longo dos últimos anos, estão tendo menos filhos, com um menor número de gestações e menor tempo de amamentação, o que contribui para o surgimento de tumores. Outra questão é que as mulheres estão menstruando cada vez mais cedo, o que interfere bastante no balanço hormonal. O sedentarismo e a má alimentação também influenciam. A falta de atividade física e o consumo de alimentos ultraprocessados, por exemplo, interferem também de maneira substancial. Pesquisas recentes indicam que os fatores genéticos são apenas 10% dos casos, aproximadamente.

CM - Exercícios físicos e o controle da obesidade são as melhores formas de prevenção diante desse quadro?

GILBERTO AMORIM - Sem sombra de dúvida. A obesidade está relacionada a diversas doenças crônicas e ao surgimento de vários tumores. Manter uma atividade física regular e uma alimentação adequada são fatores fundamentais para uma boa saúde e prevenção do câncer de mama. Exercícios físicos também são grandes aliados contra a depressão, que pode acometer pacientes que são diagnosticados com câncer.

CM - Qual é a conjuntura atual sobre as melhores práticas envolvendo o tratamento? De maneira geral, são necessários os mesmos volumes de sessões de quimioterapia e radioterapia que os praticados anos atrás?

GILBERTO AMORIM - Houve uma mudança no volume de tratamento nos últimos anos, o que chamamos de descalonamento. Estudos demonstram maior eficácia para menor exposição à radioterapia. Por exemplo, antes eram recomendados 35 dias de tratamento. Atualmente, são entre cinco e 15 dias, no máximo. Outro aspecto que mudou é que o diagnóstico de câncer de mama não é mais uma sentença de morte, de maneira geral, mesmo com metástase. Hoje está disponível tratamento que pode durar vários anos, com qualidade de vida aos pacientes e até cura em definitivo.

CM - Percebemos atualmente o uso indiscriminado de testosterona por mulheres para fins estéticos e com forte influência do segmento fitness, em academias de ginástica, para o ganho de massa muscular. Quais são os perigos desse uso sem controle?

GILBERTO AMORIM - Realmente estamos em um cenário preocupante nesse sentido. Por influência de colegas de academia ou por influenciados digitais que não transmitem informações corretas, muitas mulheres estão repondo testosterona sem critério algum, sem supervisão médica e com falta de exames apropriados. Se a mulher já tem um nível adequado de testosterona no corpo e coloca mais hormônio no organismo, acaba gerando um descontrole hormonal que pode resultar em diversos problemas, incluindo associações com o câncer de mama.

CM - Quais as recomendações para o rastreamento da doença? A mulher precisa fazer mamografia em quais circunstâncias?

GILBERTO AMORIM - A SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia) recomenda o rastreamento mamográfico anual para todas as mulheres de 40 a 74 anos e, de forma individualizada, a partir dos 75 anos. Quanto mais cedo for descoberto um eventual tumor, maiores são as chances de cura.

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A Oncologia D'Or conta com mais de 60 clínicas e também atua de forma integrada com os 79 hospitais da Rede D´Or, o que assegura uma jornada assistencial mais eficiente para o paciente | Foto: Reprodução