O Plano Safra 2025/2026, anunciado nesta semana pelo governo federal, contempla a agricultura familiar com R$ 89 bilhões, um valor expressivo, porém ainda baixo para atender à alta demanda do campo. Um forte exemplo disso está na produção de leite. Atualmente, o Brasil conta com pouco mais de 1 milhão de propriedades produtoras de leite, distribuídas em 98% dos municípios brasileiros.
De acordo com o Anuário Leite 2025 da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil produziu 25,4 bilhões de litros de leite em 2024, crescimento de 2,38% em relação ao ano anterior. A pecuária familiar responde por 30% dessa produção e 65% da mão de obra na pecuária leiteira é familiar, sendo 80% dos produtores de leite enquadrados como agricultores familiares. Ou seja, pequenos produtores têm o leite como principal fonte de renda. E têm forte participação na produção nacional.
Além do Plano Safra 2025/2026 – que destinou R$ 78,2 bilhões ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) com taxas de juros reduzidas (2% e 3%) –, outros programas têm impulsionado a qualidade e a produção de leite. Um deles é o +Pecuária Brasil, que em apenas quatro anos é responsável – direta ou indiretamente – por 30% do aumento da demanda de sêmen bovino em 2025, especialmente nos segmentos de leite (80%) e corte (20%) da pecuária familiar.
O programa de melhoramento genético, feito em parceria com a Alta Genetics, está presente em quatro mil municípios brasileiros levando biotecnologia de ponta, assistência técnica, logística e protocolos reprodutivos gratuitos a pequenos pecuaristas. O +Pecuária é o responsável pelo nascimento de 260 mil bezerros geneticamente melhorados, gerando R$ 5,7 bilhões em ativos financeiros para as regiões atendidas.
"O programa +Pecuária Brasil é fundamental para o setor agropecuário brasileiro, não apenas pelo impacto direto no fortalecimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, mas também pelo papel estratégico no fomento às cadeias produtivas da agricultura familiar", avalia Amanda Soares, diretora do programa.
"Mais do que dados e indicadores, o +Pecuária Brasil representa o investimento direto na base da produção nacional, promovendo o desenvolvimento sustentável e social", diz Amanda.
Presente em 70% das mesas
A agricultura familiar é responsável por cerca de 70% dos alimentos consumidos diretamente pelos brasileiros. Isso inclui produtos essenciais da cesta básica como: arroz, feijão, mandioca, frutas, verduras, leite, ovos e carnes de pequeno porte. Essa produção vem de aproximadamente 5 milhões de propriedades rurais familiares, das quais mais de 2,5 milhões têm até 10 hectares.
No entanto, embora seja responsável por abastecer os lares brasileiros, sua participação no abastecimento do agronegócio empresarial é indireta e difícil de quantificar com precisão. Há interações pontuais, como fornecimento de insumos, alimentos para agroindústrias e parcerias com cooperativas, mas não há um percentual oficial consolidado que indique quanto do agronegócio empresarial é abastecido diretamente pela agricultura familiar.
Isso acontece porque a agricultura familiar prioriza o mercado interno, feiras locais, programas de compras públicas e cooperativas. Já o agronegócio empresarial está mais voltado à exportação de commodities como soja, milho, carne bovina e café.
Entre os produtos mais comercializados do campo para a indústria estão: leite, frutas ou hortaliças para grandes marcas de alimentos processados; e também grãos ou carnes para agroindústrias que exportam ou distribuem nacionalmente.
Investimento baixo
Apesar de ser o maior volume já destinado ao setor, entidades e especialistas apontam que o montante não atende às necessidades reais dos pequenos produtores. Isso porque existe perda real de valor com o aumento de 3% nos recursos para agricultura familiar ficou abaixo da inflação, estimada em 5,32%. Ou seja, na prática, isso representa uma redução no poder de compra dos agricultores.
A execução limitada também é um ponto destacado: em ciclos anteriores, apenas 70% dos recursos anunciados foram efetivamente liberados. Por isso há receio de que parte dos R$ 89 bilhões não chegue à ponta, especialmente sem garantias de execução orçamentária.
Na comparação internacional, o economista Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV, avalia que "o Brasil possui uma agricultura exportadora competitiva, com baixos níveis de subsídios e proteção".
Além disso, estudos da OCDE e análises do Cepea/Esalq indicam que os subsídios brasileiros representam cerca de 3,1% da receita bruta dos produtores, enquanto países como Alemanha, EUA, China e União Europeia chegam a 30% ou mais.
"Investir na agricultura familiar é transformar o pequeno produtor em um grande empreendedor", acrescenta Amanda Soares, diretora do programa +Pecuária Brasil.