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Disputa pela Eletronuclear turbina setores energético e político

Por Sônia Paes

Um mês após a divulgação da saída de Raul Lycurgo da presidência da Eletronuclear, que opera as usinas nucleares Angra 1, Angra 2 e Angra 3 - esta última com as obras paralisadas, as articulações nos bastidores em torno do nome que irá assumir a estatal estão a cada dia mais tensas.

A temperatura ficou ainda mais elevada, na semana passada, quando o governo federal demitiu Carlos Henrique Seixas, um dos cotados para o cargo. Ele presidia a Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados) e a demissão aconteceu depois que uma foto sua ao lado do ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier, que teria envolvimento no 8/1, circulou no Planalto.

A demissão de Carlos Seixas ocorreu justamente um dia depois que ele participou de uma audiência na Câmara dos Deputados sobre o processo da obra de Angra 3. Ele representou a Nuclep na audiência no dia 27 do maio e no dia 28 foi demitido na reunião do Conselho de Administração da empresa. O diretor industrial da Nuclep, Alexandre Vianna Santana, assumiu a presidência interina e deve acumular os dois cargos até uma decisão final.

A Nuclep é uma estatal brasileira que se dedica à fabricação e comercialização de equipamentos pesados, especialmente para setores estratégicos como nuclear, defesa, óleo e gás, e energia. A função principal da empresa é projetar, desenvolver, fabricar e comercializar esses equipamentos, contribuindo para o desenvolvimento industrial e tecnológico do país.

Assim como ocorre na presidência da ENBPar (ver reportagem principal desta página), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defende um nome para o comando da Eletronuclear: Sidnei Bispo, atual diretor administrativo da Eletronuclear. No entanto, a indicação de Bispo bate na trave do Stiepar (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica nos Municípios de Paraty e Angra dos Reis).

Os sindicalistas fizeram uma carta aberta, enviada, inclusive, ao presidente Lula, contestanto a eventual nomeação tanto de Bispo quanto de Carlos Seixas, agora com as chance zeradas após a demissão. A mesma carta, divulgada, logo no início de maio, foi endereçada a outros ministros e parlamentares.

O sindicato, com forte poder entre os funcionários conseguiu deflagrar a primeira greve do complexo nuclear, em Angra, durante 20 dias, e argumenta a falta de experiência técnica e habilidade institucional de Bispo para ocupar o cargo.

- (...) Circulam informações de que o atual diretor de administração, Sr. Sidney Bispo, poderia vir a ocupar a presidência da Eletronuclear. Registramos, com veemência, nosso repúdio a essa possibilidade. Embora engenheiro eletrônico, o Sr. Bispo não possui o conhecimento técnico, nem a sensibilidade institucional necessária para conduzir uma empresa de tamanha complexidade e responsabilidade. Seu histórico recente, inclusive, inclui episódios de desrespeito e constrangimento a supervisores técnicos, que se manifestaram, em carta, sobre riscos operacionais e foram recebidos com ameaças veladas — postura inaceitável em qualquer ambiente democrático e técnico - afirma um trecho da carta.

Na lista de "presidenciáveis" consta ainda André Luiz Osório, chefe de gabinete de Lycurgo. Ele carrega em sua bagagem mais de 20 anos no setor elétrico, onde teria mais aceitação, comparado a outros nomes. Osório tem passagens pelo Ministério no Ministério de Minas e Energia. Foi Diretor do Departamento de Informações e Estudos Energéticos e atuou na Empresa de Pesquisa Energética.