Por: Mateus Lincoln

Problemas respiratórios em nível de alerta no DF

Casos de síndrome respiratória aumentam no período mais seco | Foto: Tony Winston/Agência Brasília

A incidência da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) está em nível de alerta no Distrito Federal, segundo a nova edição do Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgada na última quinta-feira (22). O documento considera os dados coletados na Semana Epidemiológica 20, entre os dias 11 e 17 de maio. A análise mostra estabilidade no número total de casos no DF, mas chama a atenção para o avanço entre a população idosa.

O boletim aponta que Brasília está entre as seis capitais brasileiras com atividade de SRAG em situação de alerta, risco ou alto risco. Apesar do cenário, o relatório não identifica crescimento da tendência de longo prazo, que analisa as últimas seis semanas. Essa estabilidade, de acordo com os técnicos da Fiocruz, se deve à desaceleração nos casos registrados em crianças pequenas.

Na avaliação por faixa etária, os dados indicam aumento nos registros de SRAG por Influenza A entre pessoas com mais de 65 anos. Esse grupo tem sido o mais afetado nas últimas semanas, o que acende um alerta para as autoridades de saúde locais. O crescimento dessa infecção entre idosos é classificado como consistente, e a taxa de incidência vai de moderada a muito alta no Distrito Federal.

A Secretaria de Saúde do DF informou que o atual nível de alerta é esperado para esta época do ano, devido à circulação sazonal dos vírus respiratórios. Conforme o órgão, "a estabilidade atual se deve, principalmente, à desaceleração dos casos em crianças pequenas, fenômeno que também está relacionado ao período de sazonalidade". Apesar disso, a pasta confirma que os casos de SRAG ligados à Influenza A seguem em aumento entre os mais velhos.

 

Gripe e frio

Daniel de Carvalho, da Assessoria da Atenção Primária da Secretaria de Saúde do DF, reforçou a necessidade de manter os cuidados nesta época do ano.

“Com a chegada do frio, é fundamental manter a vacinação contra a influenza em dia, evitar ambientes fechados e aglomerações, além de adotar hábitos de higiene, como lavar as mãos frequentemente e cobrir a boca ao tossir ou espirrar. Importante ressaltar que em casos de sintomas gripais a pessoa deve usar máscara e procurar assistência em saúde caso julgue necessário”, afirmou.

 

Precauções

Eliana Bicudo, especialista em Infectologia pela Universidade da Califórnia (EUA) e pela Sociedade Brasileira de Infectologia, explicou que é primordial que as pessoas que apresentarem sintomas, mesmo sendo apenas uma coriza ou episódios de tosse e espirros, usem sempre máscaras.

Bicudo relembrou que as precauções tomadas durante o período da pandemia de Covid-19 devem ser retomadas nestes momentos. “Os cuidados nós já conhecemos bem. As pessoas é que deixaram de praticar. Em aglomerações, como o transporte coletivo, é preciso que não só as máscaras sejam adotadas novamente, como o hábito de higienização das mãos”, afirmou.

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No transporte público, a infectologista Eliana Bicudo orienta o retorno do uso de máscaras | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

 

A doutora informou que, quando as pessoas doentes espirram, as gotículas que saem do corpo transportam o vírus e o espalham por todo o ambiente. Por isso, deve-se sempre realizar a higienização correta das mãos em ambientes públicos.

“Se segurar para não cair no ônibus ou então até tocar as maçanetas de portas podem se tornar momentos propícios para que a contaminação aconteça”, comentou Eliana.

Além disso, a infectologista alertou para o cuidado com o compartilhamento de objetos de uso pessoal. Copos, talheres, garrafinhas e demais itens que podem ser levados à boca ou ter contato com mucosas corporais, não devem ser compartilhados.

“Para crianças, essas medidas de precaução também precisam ser observadas. O uso individual de itens e a adoção das máscaras até no transporte escolar, ou coletivo, a depender de como o aluno se locomove para a escola”, detalhou ela.

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Em escolas, crianças devem ser orientadas a higienizar mãos e evitar o compartilhamento de itens pessoais | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

 

No entanto, para ela, a vacina continua sendo a principal forma de prevenção a casos graves da doença.

“A imunização minimiza a evolução da doença. Ao invés de sofrer com um caso severo de Influenza, a pessoa imunizada acaba tendo apenas um resfriado leve ou nem apresentando a infecção. A vacina é fundamental, principalmente para quem tem comorbidades ou mais de 60 anos”, concluiu.

Vacinação no DF

Para enfrentar esse cenário, a vacinação contra a gripe foi liberada para toda a população com mais de seis meses de idade no DF. A ampliação da campanha foi anunciada na última segunda-feira (19).

Atualmente, a Secretaria de Saúde do DF conta com um estoque de 300 mil doses da vacina. A recomendação é que todas as pessoas busquem os postos de vacinação, especialmente os idosos. Segundo a pasta, a imunização continua sendo a medida mais eficaz para evitar o agravamento de doenças respiratórias.

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Vacinação contra gripe é liberada para todos no DF. Infectologista recomenda que a vacina é a melhor medida preventiva | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
 

 

Cenário nacional

Além da Influenza A, o Distrito Federal também apresenta alta incidência de casos de SRAG causados pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), embora o boletim identifique sinais de desaceleração no crescimento desse tipo de infecção em algumas regiões do Centro-Oeste, incluindo Brasília. Ainda assim, o nível de circulação do vírus permanece muito alto na capital.

A análise da Fiocruz leva em conta os registros de casos nas regiões administrativas (RAs) que compõem a região de saúde central do DF. Nesse recorte, os pesquisadores observaram que, mesmo com a queda entre as crianças, a média geral de casos continua elevada por causa do aumento entre os idosos.

No cenário nacional, o boletim InfoGripe traz uma análise dos principais vírus respiratórios identificados nas últimas quatro semanas epidemiológicas. Entre os casos positivos, os principais agentes detectados foram: Vírus Sincicial Respiratório (53,6%), Influenza A (33,3%), Rinovírus (14,6%), Sars-CoV-2 (2,3%) e Influenza B (0,9%).

No mesmo período, os registros de óbitos relacionados a SRAG também revelaram maior presença do Influenza A, que esteve presente em 69,7% dos casos. O VSR apareceu em 13%, seguido do rinovírus com 9%, Sars-CoV-2 com 8,1% e Influenza B com 1,3%. Esses dados demonstram que, embora a circulação do novo coronavírus tenha diminuído, outras infecções respiratórias continuam representando riscos significativos, principalmente para pessoas mais vulneráveis.

A Fiocruz alerta que a evolução da atividade viral pode variar conforme a região e o comportamento dos vírus ao longo das semanas. Por isso, é importante manter a vigilância contínua e as medidas de prevenção. A vacinação segue como principal estratégia para conter o avanço das infecções respiratórias e mitigar seus efeitos mais graves, principalmente entre os grupos com maior risco de agravamento.