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Cariri preserva a identidade cearense

Por Jorge Silvestre (Folhapress)

O Cariri é uma região composta por pelo menos 29 cidades do Ceará e outras espalhadas entre Pernambuco e Piauí. Suas principais cidades — Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha — formam a região conhecida como Crajubar.

Em Juazeiro do Norte viveram personagens centrais do catolicismo popular: Maria de Araújo, mulher negra testemunha do milagre da hóstia que teria se transformado em sangue por 47 vezes em sua boca; e Padre Cícero, suspenso das ordens em 1892 e hoje em processo de beatificação.

Desde o século passado, milhares de romeiros peregrinam até o santuário de Padre Cícero, onde uma estátua de quase 30 metros vigia o horizonte. É possível chegar de ônibus, carro ou pelo teleférico Caminhos do Horto (R$ 30, com opção de meia entrada). Dizem que dar três voltas em sua bengala garante o alcance de uma graça.

Cerca de 20 km ao sul de Juazeiro fica Barbalha. É de lá, no Complexo Ambiental Mirante do Caldas, que se tem a melhor vista da chapada. De quarta a domingo, um outro teleférico, de 540 metros leva ao alto do mirante, envolto pela Floresta Nacional do Araripe-Apodi — a mais antiga do país, e lar do soldadinho-do-araripe, ave endêmica e ameaçada. Os ingressos custam R$ 20.

É também em Barbalha que ocorre, todo mês de junho, a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio, reconhecida como patrimônio imaterial pelo Iphan. Desde 1860, a mais tradicional celebração da região mobiliza multidões de pessoas por ali. O povo vai acompanhando o corte, o transporte e o hasteamento do mastro, em cortejo com promessas ao santo casamenteiro.

Além das riquezas culturais, a região também abriga tesouros geológicos, como depósitos sedimentares repletos de fósseis, que registram em detalhes a história da separação do supercontinente Gondwana, ocorrida no período jurássico, dando origem à América do Sul e à África. As rochas sedimentares também absorvem a água da chuva e as devolve ao ambiente por inúmeras fontes cristalinas no sopé da chapada, contribuindo para impedir o avanço da desertificação no semiárido.

A área foi a primeira das Américas a ser reconhecida como um geoparque pela Unesco — e agora, também é candidata a se tornar patrimônio da humanidade.