Por Giovana Kebian e Pedro S. Teixeira (Folhapress)
Usar a inteligência artificial (IA) para escrever um email com cerca de cem palavras gasta a mesma energia do que deixar quatro lâmpadas de LED acesas por uma hora. Para gerar uma imagem, o consumo é cerca de 60 vezes maior, ou 240 lâmpadas ligadas pelo mesmo período.
Esses modos de uso se repetem à exaustão no Brasil e no mundo desde a popularização do ChatGPT no fim de 2022. O consumo acumulado no país durante um ano só com uma hipotética geração semanal de e-mails seria comparável à demanda anual por eletricidade de uma cidade de 82 mil habitantes.
A Folha de S.Paulo estimou esse cenário usando uma metodologia criada por pesquisadores da plataforma Hugging Face (que funciona como uma coleção de IAs) e com base nos relatos de programadores que usam o modelo de IA da Meta Llama 3.1 405 b no próprio computador, o que lhes dá acesso às informações de consumo.
Tabelas de preços de provedores de nuvem permitem inferir que o modelo da Meta tem uma demanda computacional parecida com a do GPT-4o, que equipa o ChatGPT, uma vez que o custo de usar as duas tecnologias é parecido.
Entre os principais desenvolvedores de IA, apenas Meta e Deepseek divulgam dados sobre o consumo de eletricidade de suas tecnologias. Por isso, cientistas desenvolveram medições indiretas da pegada energética — e também de água e carbono de ChatGPT (OpenAI), Gemini (do Google) e Claude (Anthropic).
Procuradas, as empresas não responderam às questões da reportagem.
Cada comando solicitado a um modelo de IA exige que computadores especializados façam trilhões de cálculos para determinar as melhores palavras para cada resposta — essas máquinas ficam nos chamados data centers, que o governo Lula planeja isentar de impostos para atrair investimentos. Isso fez a demanda por eletricidade destinada ao processamento de dados explodir.
Quanto mais elaborada a tarefa solicitada à IA, maior o consumo energético dos modelos de inteligência artificial. Uma pesquisa da Universidade de Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, estima que usar IA para criar imagens consome, em média, 60 vezes mais energia do que geração de texto.
"No caso da geração de texto, há uma exigência menor em termos computacionais para manipulação da sequência de caracteres, em comparação à geração de imagem. A diferença basicamente está na carga de trabalho", explica André Miceli, CEO da MIT Technology Review Brasil.
Outro fator relevante para o gasto de energia é o tempo de processamento. Enquanto gerar um texto de cem palavras ocupa poucos segundos do ChatGPT, criar uma imagem pode tomar até um minuto do modelo, de acordo com a sua desenvolvedora, OpenAI.