Hoje, dia 20 de maio, é o Dia Mundial das Abelhas. A data foi estabelecida pela ONU, em 2017, para alertar e conscientizar a população sobre a importância desses insetos para o funcionamento do ecossistema da Terra.
Em comemoração, a reportagem do Correio da Manhã visitou o espaço que irá se tornar o maior corredor ecológico de abelhas do mundo, no Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, em Brasília, que também é o maior parque da América Latina. O projeto prevê a plantio de 300 mil mudas em um percurso de 10 quilômetros. Quando a flora estiver crescida, o Instituto Abelhas Nativas pretende soltar as espécies sem ferrão para instalarem suas colmeias na vegetação cultivada.
O bosque das abelhas foi inaugurado neste mesmo dia, em 2021. Dentro dos 420 hectares do parque, foi cedida a área para a construção do corredor ecológico, que começa no Parque da Cidade e vai até o Parque Nacional de Brasília.
O espaço foi cedido pelo Governo do Distrito Federal (GDF), e todo o projeto já havia sido aprovado. No entanto, Luiz Lustosa, presidente do Meliponário Instituto Abelhas Nativas, responsável pela implementação da iniciativa, está preocupado. Uma obra do próprio GDF, iniciada recentemente, derrubou cerca de 3.,5 mil mudas plantadas no trajeto, sem qualquer aviso prévio.
Abelhas mais dóceis
Durante a visita, guiada por Lustosa, a reportagem teve contato direto com as abelhas nativas, que não possuem ferrão e apresentam um comportamento mais dócil do que as chamadas abelhas europeias, aquelas ferram as pessoas quando se sentem ameaçadas e podem ser bem perigosas.
Segundo o especialista, as abelhas nativas são mais dóceis, e o máximo que vão fazer é grudar em cabelos quando se sentirem extremamente ameaçadas.
“Essa são as brasileiras. As abelhas com ferrão, na verdade, foram trazidas pelos padres jesuítas europeus durante o processo de colonização do Brasil para produzirem mel, antes mesmo do açúcar chegar”, esclarece.
Segundo ele, apesar das europeias terem conseguido se adaptar aqui, as abelhas brasileiras só conseguem sobreviver na vegetação nativa de sua região.
“Ou seja, abelhas do Cerrado devem permanecer no Cerrado. É por isso que estamos plantando apenas espécies do Cerrado, como jatobás, ipês, barrigudas, aroeiras, jenipapo e outras. Assim, essas abelhas poderão criar suas colmeias nelas e viverem no bosque. Costumamos dizer que essas abelhas são mais sociáveis”, destaca.
Mel
De fato, essas abelhas têm um comportamento mais dócil, tanto que permitiram que se bebesse mel direto de suas colmeias, experiência, inclusive, deliciosa. O comportamento suave também reflete no gosto saboroso do mel que elas produzem. Até o cheiro deste mel é diferente.
No local, são produzidos cerca de 100 kg de mel por ano. Cada espécie resulta em um produto diferente. Segundo Luiz, hoje são cerca de oito espécies diferentes distribuídas em mais de 80 caixas.
Wanda Alcântara também tem um meliponário, mas em São Paulo. Ela explica à reportagem que o mel das abelhas sem ferrão são verdadeiras joias gastronômicas.
“Enquanto a abelha com ferrão desidrata o mel para estocar em favos de cera, a abelha sem ferrão o faz em potes que levam resinas e microrganismos benéficos. As resinas somam notas de sabor ao mel”, explica.
Sociedades organizadas
No meliponário do Parque da Cidade, as abelhas criam suas colmeias em caixas próprias para estes viveiros. Luiz conta que essas abelhas são extremamente fiéis à suas colmeias, e que saem, mas voltam. Além disso, explica que essas “sociedades” são super organizadas, ocasião em que cada abelha cumpre uma função para o funcionamento da colmeia. É assim até sua morte. Elas vivem para atender a funcionalidade do seu local.
Para a proliferação da espécie, o meliponário conta com uma tecnologia construída em laboratório próprio que mantém a temperatura necessária a sobrevivência da espécie. O meliponicultor também explica que as colmeias são lideradas pelas abelhas rainha.
“Ela não precisa de uma espécie macho para gerar ovos, contendo uma espermateca em seu organismo capaz de gerar até 450 mil ovos na sua primeira fecundação”.
Adoção
No Instituto Abelhas Nativa, é possível fazer uma adoção de abelhas para patrocinar o projeto. Na ocasião, a pessoa interessada “adota” uma abelha e recebe o mel produzido pela sua colmeia em casa. A adoção gera certificado e direito à visita.
Em Brasília já existe uma Lei Distrital, a 7.311 de 2023, que regulamenta o manejo. Segundo o autor, deputado Roosevelt Vilela (PL), além de regulamentar, a norma também busca incentivar a prática para uma economia criativa local.
“É uma atividade fundamental para o equilíbrio ambiental e o fortalecimento da agricultura sustentável. As abelhas desempenham um papel indispensável na polinização, contribuindo diretamente para a produtividade de diversas culturas e para a preservação da nossa biodiversidade. Além disso, o mel produzido na nossa região é reconhecido nacionalmente pela sua qualidade”, diz o distrital.
Educação ambiental
Até o dia 23, o Instituto está ministrando um webinário. O objetivo do curso é ensinar e incentivar a prática da meliponicultura, conscientizar sobre a importância das abelhas, falar sobre as cidades verdes e a produção de mel enquanto economia sustentável e moeda de carbono.
Wanda Alcântara é uma das palestrantes. À reportagem, a escritora do livro “Coisas abelhudas que todo mundo deveria saber”, explica ao Correio da Manhã a essencialidade das abelhas para o mundo.
“Polinização é a palavra-chave. Ao buscar recursos nas flores, as abelhas acabam transferindo o pólen para as partes femininas das flores e é isso que faz surgir sementes e frutos que alimentam a vida no Planeta e renovam a vegetação dos biomas” afirma.
A especialista também conta que seu interesse pelas abelhas começou na graduação, mas foi na pandemia que ela começou a criação. Ela compartilha que foi a meliponicultura que a tirou de uma depressão profunda que desenvolveu durante o isolamento social.