Por Pedro Sobreiro
Criada na Grécia Antiga, a Olimpíada surgiu como um ritual esportivo e religioso para homenagear a Zeus e a pureza do espírito esportivo. De lá para cá, muitas edições foram disputadas, até o evento ser completamente reformado na Era Moderna, quando o francês Barão Pierre de Coubertin recriou os Jogos Olímpicos, trazendo o lema "Citius, Altius, Fortius", que significa "Mais rápido, mais alto, mais forte" em latim, a ideia era buscar a excelência, mas sempre valorizando o espírito de que lutar até o fim é mais valoroso do que a própria vitória.
Diante desse poder histórico, o Rio de Janeiro viveu uma noite digna do Olimpo na terça-feira (13), quando o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) convocou ao Copacabana Palace os maiores nomes do esporte olímpico do país para a cerimônia do Hall da Fama 2025.
O evento foi promovido para celebrar a inclusão de Afrânio Costa, Daiane dos Santos, Edinanci Silva e Gustavo Kuerten, o Guga, no Hall da Fama do esporte brasileiro.
E para onde se olhava, era possível perceber a presença de algum pedaço da riquíssima história esportiva do Brasil no Salão Dourado do Copacabana Palace, não apenas pelos moldes de mãos, pés e autógrafos dos outros membros do Hall da Fama que foram levados para a cerimônia, mas pela ampla presença de atletas e ex-atletas que não só viram, como ajudaram a construir capítulos eternizados, sejam eles de vitórias ou de muita garra e espírito esportivo.
Para o Diretor-Geral do COB, Emanuel Rego, essa celebração é uma forma de valorizar o esporte e ajudar a inspirar gerações.
"O Hall da Fama é, na realidade, uma continuação do movimento olímpico. E quais são as premissas? Respeito, amizade e excelência. Então, esses atletas que estão integrando o Hall tiveram excelência plena em suas modalidades, e isso tem que ser reconhecido. E acredito que é dever do movimento olímpico valorizar esses papéis, principalmente tentar fazer com que eles sejam inspirações para as próximas gerações. Acredito que aqueles que fazem judô, tênis, tiro esportivo, lembram desses ícones [homenageados no evento]. Espero que nossos heróis possam ser seguidos e acompanhados pelas próximas gerações", disse Emanuel.
Quem concordou com a afirmação foi Yane Marques, Vice-Presidente do COB.
"Esse evento aqui eterniza quatro histórias muito lindas e inspiradoras, e ajuda os nossos jovens a escolherem ídolos para as vidas deles. São histórias que motivam, que inspiram e que dão um norte com lições de vida, de abnegação, de entrega, alegria e realização em função do esporte", completou.
Membro do Hall da Fama, medalhista de prata em Los Angeles 1984 e criador do lendário saque 'Jornada nas Estrelas', Bernard Rajzman valorizou a cerimônia e fez questão de ressaltar a honraria a Afrânio Costa.
"O Hall da Fama é importantíssimo! Acho que o COB está marcando mais um golaço ao mostrar que existe uma história que não pode ser esquecida, e que os atletas têm que ser relembrados sempre. A maior demonstração disso é a indicação do nosso primeiro medalhista olímpico [Afrânio Costa]. Para quem já participou de tantas Olimpíadas quanto eu, esse reconhecimento é lindo de ver! E mostra não só o reconhecimento, mas que temos de ter um começo para contar a história para as próximas gerações. A medalha de ouro do vôlei e de outros tantos esportes não caíram do céu, elas são fruto de histórias. E é muito bonito o COB estar reconhecendo isso", afirmou.
"O Olimpismo tem tantos valores a serem divulgados para que possamos estar juntos à juventude. Tudo que está acontecendo aqui hoje é fundamental, é mais um capítulo da história que a gente está sendo testemunha", concluiu.
Emoções a mil
Dentre os indicados, a ex-judoca Edinanci Silva estava nitidamente emocionada. Extremamente celebrada na hora de receber a honraria, ela disse custar a acreditar que aquilo estava realmente acontecendo.
"Está sendo muito honroso poder estar aqui ao lado de grandes atletas, e ainda estou demorando a acreditar. Estou achando que vou acordar a qualquer momento e perceber que é tudo um sonho", comentou.
Igualmente emocionada, Daiane dos Santos destacou o carinho que recebe da nova geração.
"Fico muito feliz de receber o carinho e esse olhar das atletas mais jovens, porque eu já tive esse olhar para outras atletas. Receber essa admiração da nova geração é muito gostoso, até porque é muito do que meus pais plantaram em mim. Eles queriam que eu fosse uma pessoa do bem e sempre trouxeram para a gente a importância desse legado do bem para as pessoas negras. Poder ter esse olhar de carinho independente da cor da pele, da classe social. Então, ter esse olhar de admiração da nova geração é incrível, porque eu tenho muita admiração por elas também. Elas estão levando e mantendo abertas as portas que muitas pessoas abriram lá atrás. E isso, para a gente, é um sonho realizado. Que meninos e meninas sejam fonte de inspiração positiva, não só para atletas, mas para o povo brasileiro em geral", explicou.
"Acho que a grande surpresa é poder estar aqui, vivendo esse grande momento. Poder escrever o nome do meu esporte em meio a esse grupo tão seleto, poder ter meu nome ali, em meio a esse grupo tão seleto, é uma grande benção. É muito difícil a gente descrever sentimento, mas acho que dá para ver no meu rosto a felicidade, e estou pronta para receber todas as surpresas, mas também pronta para entregar toda minha gratidão por estar aqui. Foram muitas pessoas que me fizeram estar aqui, hoje. E hoje estou aqui por todas elas", concluiu.
O recado de Guga para a próxima geração
Conhecido por sua positividade e bom humor inabalável, o tenista Gustavo Kuerten fez valer o carisma, sendo muitíssimo requisitado para fotos por fãs emocionados de estarem diante do ídolo. Sempre com o famoso sorriso no rosto, Guga atendeu a todos, esbanjando simpatia.
Quando subiu ao palco para receber a honraria, viu um auditório repleto das maiores lendas vivas do esporte brasileiro o ovacionarem com aplausos e gritos de 'Olê Olê Olê Olá! Guga! Guga!".
Diante de lendas do passado e do presente, ele agradeceu o legado daqueles que influenciaram gerações e deu um recado espetacular para quem está competindo atualmente: valorizar o dia a dia.
"Nós vivemos toda essa trajetória, mas ela começou olhando para vocês. Os que por aqui já passaram, que são homenageados, são ídolos - e eu me lembro bem do Joaquim Cruz correndo, do Bernard com o Jornada nas Estrelas, da Hortência, da Paula... São todos esses nomes que fizeram a gente sonhar e alimentaram uma vontade do tamanho do mundo. Nos mostraram que é possível, nos fizeram pensar 'pô, eu sou brasileiro também! Vai dar certo! Tem que funcionar!'. Por isso, para vocês que estão aqui, que ainda podem aproveitar o dia a dia da vida de atleta, eu digo: divirtam-se! Aproveitem todos os momentos possíveis e, se possível, valorizem toda essa capacidade que vocês têm de inspirar, de impulsionar e influenciar as pessoas. É fantástico o que vocês fazem, a capacidade de influenciar a vida de milhões de brasileiros. Nós somos torcedores totais de vocês. Desejamos muita saúde e muito sucesso!", disse Guga.
Em meio a lendas como Aída dos Santos, Robert Scheidt, Vanderlei Cordeiro de Lima, Servílio de Oliveira e muitos outros, Guga, Daiane, Edinanci e Afrânio Costa, que foi representado pelos familiares, já que faleceu em 1979, foram laureados com a honraria máxima do esporte brasileiro, que é a inclusão e eternização no Hall da Fama.
Como o próprio Servílio disse ao Correio da Manhã, "daqui a 300 anos, as pessoas vão saber quem foram os atletas que nos representaram tão bem pelo mundo", e tudo isso graças a esse trabalho de reconhecimento do COB.