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Lady Gaga lava a alma de mais de2 milhões de fãs em Copacabana

Lady Gaga reuniu o maior público de uma artista feminina | Foto: ISHOOT/Folhapress

Por Pedro Sobreiro

O que o Rio de Janeiro viveu no sábado (3) foi tão grandioso que chega a faltar palavras para descrever o que foi o Todo Mundo no Rio 2025, que trouxe a cantora Lady Gaga com seu show 'Mayhem on the Beach' para as areias de Copacabana.

A expectativa era de 1.6 milhão de pessoas, mas os dados divulgados pela Prefeitura do Rio apontam cerca de 2.1 milhões de fãs reunidos na praia.

No mundo, existem eventos aos quais os fãs vão por vontade própria, enquanto outros parecem convocar as pessoas apenas com sua aura e aspiração à grandeza. E esse segundo foi o caso da já histórica apresentação de Lady Gaga no Rio de Janeiro. Quem mora na cidade percebeu como o clima na cidade nesta última semana foi diferente. A diversidade de sotaques, idiomas e rostos espalhados pela cidade deram ao Rio aquela imagem de "coração do mundo".

Dias de glória

Mais do que os tradicionais turistas argentinos, que são sempre muito bem-vindos, era possível ver - não apenas pela Zona Sul, bom ressaltar - gente dos EUA, Chile, Austrália, Peru, Nigéria, Croácia, França e muitos outros países explorando a cidade enquanto não chegava o dia do show. Foi muito bonito. Para aqueles que viveram a magia da Rio 2016, o Rio de Janeiro reviveu esses dias de glória, revertidos em sorrisos nos rostos dos turistas e em um retorno financeiro colossal para a rede hoteleira, que viu sua capacidade de ocupação chegar a 90% em um período de baixíssima temporada.

Mais do que isso, o Todo Mundo no Rio 2025 fez rodar o planeta a imagem do cartão-postal brasileiro recebendo com muito amor a principal artista pop do mundo. Segundo o Google Trends, o termo "Rio" teve um 'boom' nas buscas digitais em mais de 45 países, durante o show. Isso é um tipo de propaganda que jamais seria comprada com os cerca de R$ 15 milhões investidos pela Prefeitura e pelo Governo do Estado no evento.

Nas redes sociais, fãs de música pelo mundo brincaram com a famosa "#ComeToBrazil" ou "#VenhaParaOBrasil", que os fãs brasileiros costumam bombardear as redes sociais de seus ídolos, pedindo que eles façam shows no país.

"Quando os brasileiros dizem VENHA PARA O BRASIL é isso literalmente o que eles querem dizer, a propósito", disse uma fã estrangeira mostrando a foto aérea do show.

Cultura para todos

Mais do que o retorno financeiro, o evento, apelidado carinhosamente de 'Gagacabana', teve um valor social inestimável. A apresentação da cantora foi uma superprodução que custaria tranquilamente R$ 500 um ingresso de meia entrada, tomando como referência os valores aplicados aos bilhetes dos últimos grandes shows internacionais na cidade.

Não é um valor acessível, não é um evento que permite que todo mundo conheça ou marque presença. Ao trazer esse show para a praia, o espaço mais democrático do país, Lady Gaga pôde cantar e falar para todos.

Gente que jamais teve condições financeiras para bancar um show desses conseguiu apenas sentar sua cadeirinha na praia para aguardar a entrada da cantora na banda. Para muitos, esse show foi o primeiro e único na vida.

E qual a função da cultura se não aproximar o povo da arte e a arte do povo?

Sorrisos

Para onde se olhava, só se via sorrisos. Mesmo com todos os perrengues possíveis para uma aglomeração de 2 milhões de pessoas, as pessoas estavam efetivamente felizes por estarem ali, por aguardarem para ver um show que já nasceria histórico.

Para muitos, a apresentação de Lady Gaga foi uma oportunidade para 'lavar a alma', caso de Carlos Antônio, publicitário de 29 anos, que foi ao show com a pulseira-ingresso do dia 15 de setembro do Rock In Rio 2017, o infame dia do cancelamento. Anunciada sob forte expectativa, a cantora cancelou sua participação no festival um dia antes do show devido à fortes dores ocasionadas pela fibromialgia.

"Eu não peguei o reembolso na época porque sabia que ela voltaria. E hoje estou aqui, com minha pulseira, para ver a 'Mother'", disse Carlos, emocionado.

Pela areia, a história se repetia. Fãs brincavam com a frustração do passado com muito bom humor. Não importava mais o cancelamento de oito anos atrás, eles só tinham olhos para o show que aconteceria ali.

Na área VIP, dezenas de fãs usavam e abusavam dos figurinos excêntricos eternizados pela Lady Gaga em seus videoclipes, fazendo um pequeno desfile de moda nas areia de Copacabana, chamando atenção de toda a imprensa e da própria cantora.

Todos estavam muito felizes por estarem ali, incluindo a própria Lady Gaga, que brincou com a aglomeração dos fãs na porta do Copacabana Palace durante as madrugadas.

"Brasil, eu ouvi vocês cantando minhas músicas dia e noite neste período aqui. Saibam que eu ouvi cada palavrinha cantada por vocês. E agora eu quero cantar para vocês", brincou Lady Gaga já na reta final do show.

Mas a cena que chamou mais atenção foi a de Lady Gaga e seus dançarinos parando para admirarem a queima de fogos durante o encerramento do show, dando àquele momento apoteótico mais um belo capítulo para a história.

Superprodução

O 'Mayhem on the Beach' se consolidou como o maior show feminino da história, e o quinto maior de todos os tempos (vale destacar que três deste cinco ocorreram justamente em Copacabana), e fez de tudo para conseguir essa atenção colossal dos fãs.

Dirigido como uma peça de teatro, o show conta a história da Morte e Ressurreição de Lady Gaga, passeando pelas gloriosas fases da carreira da cantora que parece viver um auge eterno.

Não importa qual álbum ela resgate, a quantidade hits é descomunal. O público cantava a plenos pulmões e mal tinha tempo para respirar, porque era sucesso atrás de sucesso.

Com um palco gigantesco, com direito a telão redondo suspenso, os principais figurinos usados por ela nessas últimas duas décadas, e uma cenografia impecável, Lady Gaga trouxe para o Rio um show meticulosamente elaborado para contar uma narrativa por meio das canções, dialogar com os fãs, transportando-os para as épocas dos hits, e fascinar os curiosos que marcaram presença justamente por ser um show gratuito.

Esqueça aquela história de apenas um cantor com sua voz e o violão, Gaga trouxe aos palcos uma teatralidade genial e deliciosa de acompanhar. Isso sem contar os já icônicos figurinos feitos em homenagem ao Brasil, com as cores azul e verde.

O Todo Mundo no Rio 2025 elevou ainda mais os já altíssimos padrões para shows no Rio de Janeiro, e a resposta do público diz muito sobre isso.

Se a geração passada passou décadas se gabando de ter presenciado o histórico show do Queen no Rock In Rio 1985, a geração atual acabou de ganhar um show lendário para chamar de seu. Histórias serão contadas sobre o 'Gagacabana', que vai deixar saudades.

E como o prefeito Eduardo Paes já garantiu que haverá um Todo Mundo no Rio 2026, só resta desejar ao artista escolhido muita sorte, porque será difícil fazer algo desta grandiosidade novamente.