Por: Isabel Dourado

Rim: o "maestro" do corpo humano

Casos que exigem hemodiálise têm aumentado no país | Foto: Pillar Pedreira/Agência Senado

Comemorado anualmente na segunda quinta-feira de março, o Dia Mundial do Rim tem como missão sensibilizar a população sobre a importância vital desse órgão e a prevenção das doenças renais. A Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) lançou a Campanha Mundial do Dia do Rim deste ano, que tem como objetivo principal divulgar informações sobre as doenças renais, com foco na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado da doença. O tema da campanha, que completa 19 anos, é: “Seus rins estão ok? Faça exame de creatinina para saber”.

A principal tarefa do rim é filtrar o sangue, removendo resíduos e excesso de substâncias, como água, sódio e toxinas, que são eliminadas na urina. Além disso, os rins ajudam a manter o equilíbrio de líquidos e eletrólitos no corpo, regulando a pressão arterial e o pH do sangue. Ao Correio da Manhã, o médico nefrologista Bruno Zawadzki classifica que o rim exerce o papel de “maestro” no corpo humano, desempenhando diversas funções consideradas essenciais para o funcionamento equilibrado do corpo.

Filtragem

“O papel de filtragem do rim é fundamental. Além disso, ele desempenha uma outra função muito importante, que é o controle da água no nosso corpo, o que chamamos de controle hídrico. Ele é responsável por regular a quantidade de líquido que ingerimos e a que eliminamos, de acordo com nossa hidratação, a temperatura do dia — se está muito calor ou mais frio — e a quantidade de líquido que bebemos. A atividade física também influencia. Se eu praticar uma atividade intensa, por exemplo, meu corpo precisa reter mais água. Assim, o rim realiza esse controle para manter um estado de hidratação adequado, evitando que o corpo fique com excesso ou deficiência de água”, explica Zawadzki.

O rim também desempenha uma função endócrina fundamental. Ele produz um hormônio chamado eritropoetina, que estimula a produção de hemácias — os glóbulos vermelhos — na medula óssea. Esse hormônio é essencial para a manutenção de um nível adequado de glóbulos vermelhos no sangue, prevenindo a anemia. “Por isso, quando há problemas renais, como na doença renal crônica, a produção desse hormônio diminui, o que pode levar à anemia. Portanto, o controle da produção de glóbulos vermelhos é outra função essencial do rim”, diz o especialista.

O médico nefrologista também esclarece que outra função importante do rim é o controle dos eletrólitos. “O rim é responsável por manter o equilíbrio de substâncias como sódio, potássio, cálcio, fósforo, magnésio e cloro no sangue. Ele regula a quantidade desses íons, decidindo quanto será eliminado ou reabsorvido para manter esse balanço adequado. O rim também tem um papel fundamental no metabolismo ósseo, pois regula a eliminação e reabsorção de cálcio. Isso é crucial para evitar condições como osteoporose, já que o cálcio está intimamente ligado à saúde óssea.”

Devido a essas múltiplas funções que o órgão exerce, a saúde renal é fundamental para o equilíbrio geral do corpo e para prevenir uma série de complicações, como a retenção de líquidos, hipertensão e distúrbios no sistema cardiovascular. Por isso, especialistas da área da saúde chamam a atenção para a necessidade de cuidar dos rins e prevenir doenças renais.

Aumento preocupa

A médica nefrologista do Hospital Sirio Libanes de Brasília, Flávia Gonçalves, esclarece que a doença renal crônica (DRC) é uma condição progressiva e irreversível em que os rins perdem gradualmente sua capacidade de filtrar resíduos e excesso de líquidos do sangue. “Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença renal crônica são: hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, uso frequente de anti-inflamatórios, idade avançada e história familiar de doenças renais”, explica. Ou seja, o aumento das doenças renais está relacionado com os mesmos fatores de sedentarismo e maus hábitos que hoje fazem aumentar outras doenças.

Um levantamento feito pelo Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia mostrou que, nos últimos dez anos, a Doença Renal Crônica (DRC) apresentou um aumento de 57,6%, fazendo com que mais de 155 mil brasileiros passassem a depender de hemodiálise. Esse crescimento reflete a elevação dos principais fatores de risco, como hipertensão, doenças cardíacas, diabetes e obesidade, que também tiveram um aumento significativo nos últimos anos.

Bruno Zawadzki cita um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia que estima que a doença renal crônica pode se tornar a quinta maior causa de morte no mundo em 2040. “Nos últimos anos, temos observado um aumento acentuado da doença renal crônica, e a perspectiva é que, até 2040, ela se torne a quinta maior causa de morte no mundo. Esse é um problema global, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Hoje, cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo possuem algum grau de doença renal crônica”.

Diagnóstico precoce

Especialistas da área da saúde explicam que o diagnóstico precoce da doença renal crônica é essencial para que seja possível identificar alterações nos rins antes que haja agravamento, permitindo intervenções que podem retardar a progressão da doença e evitar complicações graves.

Flávia Gonçalves explica que o diagnóstico precoce é fundamental e traz melhores resultados no tratamento além de reduzir a mortalidade. Ela afirma que como a doença renal crônica é assintomática na maioria dos casos, é importante ficar atento aos sinais de comprometimento renal, como a perda de proteína na urina, especialmente em pacientes diabéticos.

“É muito importante que façamos exames regulares como a dosagem de creatinina e o exame de urina simples, para diagnosticar a doença renal o mais cedo possível. O tratamento envolve a adequação do estilo de vida, com ajustes na dieta, alimentação, prática de atividade física, interrupção do tabagismo, controle da hidratação e do uso de medicamentos”.

A nefrologista explica também os principais sintomas da doença. “A doença renal crônica, muitas vezes, é assintomática, o que reforça a necessidade de avaliação para quem apresenta fatores de risco. No entanto, apesar de ser assintomática, alguns sintomas podem chamar atenção e justificar a busca por avaliação clínica. Esses sintomas incluem inchaço, principalmente nas pernas, rosto e mãos, mudanças na coloração da urina, presença de sangue ou espuma na urina, dores lombares frequentes, e alterações inespecíficas como náusea, vômito e sensação de fraqueza intensa e persistente. Nesses casos, é fundamental procurar uma avaliação médica”.

Dia do Rim

Bruno Zawadzki ressalta que o Dia Mundial do Rim é uma data de extrema importância para aumentar a conscientização sobre a saúde renal e informar a população sobre a necessidade de diagnóstico precoce e tratamento adequado da doença.

“O Dia Mundial do Rim é um momento crucial para a conscientização e a disseminação de informações à população. Sabemos que, no Brasil, cerca de 20 milhões de pessoas vivem com algum grau de doença renal crônica, muitas das quais ainda não têm diagnóstico devido ao desconhecimento sobre a doença e à dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Por isso, é fundamental espalharmos informações para que as pessoas conheçam os fatores de risco, reconheçam os sinais da doença e busquem os cuidados necessários para um diagnóstico precoce”.