Por Sônia Paes
"A cada mês em que essa obra não é retomada, o Brasil paga mais de R$ 100 milhões em função de todos os custos envolvendo manutenção de equipamentos". A declaração foi dada pelo deputado federal Julio Lopes (PP-RJ), presidente da Frente Parlamentar da Tecnologia e Atividades Nucleares, e refere-se às obras da usina Angra 3, iniciadas ainda na década de 80 e paralisadas.
A discussão sobre a retomada as obras da usina nuclear Angra 3 deve ser retomada no próximo dia 18, quando o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) tem reunião extraordinária agendada. O Conselho discutirá a viabilidade do preço da tarifa da usina e, consequentemente, se as obras serão retomadas.
- A obra de Angra 3 é um obviedade econômica e eu não tenho dúvida nenhuma da manifestação favorável do Conselho Nacional de Política Energética à sua continuidade. Assim como o Nelson Barbosa, diretor do BNDES, e muitos outros já disseram, a obra será financiada em cima da venda futura de energia. É muito importante que o governo autorize a retomada das obras, porque estou certo de que nada poderá dar ao Rio de Janeiro mais crescimento econômico do que o desenvolvimento de Angra 3 - disse o deputado, com exclusividade ao Correio Sul Fluminense.
Entenda o caso
Em dezembro do ano passado, os integrantes do CNPE, composto por 17 ministros, se reuniram para discutir o assunto, mas não chegaram a um consenso. Na ocasião, o CNPE, presidido por Alexandre Silveira, das Minas e Energia, pediu mais tempo para decidir sobre a eventual retomada de Angra 3.
Na pauta da reunião de dezembro também estava o preço da tarifa previsto na celebração do contrato de energia da usina. O ministro Alexandre Silveira já defendeu publicamente a continuidade das obras e fez o mesmo na reunião do ano passado. Sem êxito. Após o imbróglio, a previsão era de que a reunião fosse realizada pelo Conselho ainda em janeiro e agora foi marcada para este mês.
Estudo do BNDES
Estima-se que o custo para abandonar as obras de Angra 3 pode passar de R$ 21 bilhões. O dado é fruto do estudo independente, imparcial e aprofundado produzido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sobre a terceira usina nuclear brasileira. O montante seria praticamente o mesmo de se concluir o empreendimento, entretanto, sem gerar energia elétrica. A expectativa é que a usina entre em operação comercial em 2031.
O material foi entregue à Eletronuclear em setembro do ano passado e mostrou a viabilidade técnica, econômica e jurídica do projeto. O mesmo estudo foi enviado pela empresa ao Ministério de Minas e Energia e aos acionistas (ENBPar e Eletrobras). O MME encaminhou o documento para o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que decide pela conclusão ou não da usina.
Proposta da tarifa
A tarifa proposta no estudo foi estimada em R$ 653,31 por megawatt-hora (MWh). Esse valor é similar à tarifa de referência definida pelo CNPE em 2018 (R$ 480,00, em valores da época, que atualmente correspondem a R$ 639,00). Já o custo para finalizar a construção de Angra 3 foi avaliado em torno de R$ 23 bilhões, conforme análise do BNDES. O montante já investido na obra é de quase R$ 12 bilhões.
O estudo identificou também que cerca de R$ 800 milhões em equipamentos de Angra 3 foram utilizados por Angra 2. Da mesma forma, entre R$ 500 milhões a R$ 600 milhões em combustível nuclear foram utilizados pela segunda usina brasileira, e tinham sido inicialmente comprados para a terceira. Por isso, aproximadamente R$ 1,4 bilhão será reembolsado pelo próprio caixa de Angra 2. O fato impacta positivamente a competitividade tarifária de Angra 3, segundo o documento.
Sobre Angra 3
A terceira usina nuclear brasileira terá potência de 1.405 megawatts, sendo capaz de produzir cerca de 12 milhões de MWh anuais, caso seja concluída. Se isso acontecer, a Central Nuclear de Angra - que tem mais duas usinas - passará a gerar o equivalente a 70% do consumo do estado do Rio de Janeiro. O empreendimento apresenta, no momento, um progresso físico global de 66%.
*Com informações da Assessoria de Imprensa da Eletronuclear