Por Richard Stoltzenburg
Durante o ano de 2024, 657 pessoas receberam auxílio doença ou se aposentaram por invalidez devido a síndrome do Burnout no Estado do Rio de Janeiro. Em um contexto nacional, 4.883 brasileiros foram afastados devido à doença no ano passado. Os dados são do Ministério da Previdência Social para a equipe do Correio Petropolitano.
A síndrome do Burnout ou síndrome do esgotamento profissional é um distúrbio emocional, cuja principal causa é o excesso de trabalho e que pode acarretar em sintomas como fadiga, sentimentos de incompetência, dor de cabeça frequente, alterações no apetite e cansaço excessivo físico e mental. Apesar de já ser considerado uma doença ocupacional desde 2022, neste ano, o burnout foi reconhecido na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e passa a ter o código QD 85. Com a vigência no Brasil, os trabalhadores diagnosticados na CID-11, terão garantido os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários previstos nas demais doenças relacionadas ao trabalho.
De acordo com o pesquisador e professor do departamento de psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bruno Chapadeiro Ribeiro, a atualização traz um código específico para a doença. " A CID-10, que ainda está em vigor, considera o burnout como problema relacionado com a organização do modo de vida, ou seja, de forma muito abrangente. Temos a notícia que o Ministério da Saúde implementou essa nova classificação a rede de saúde, seja pública ou privada, até 2027. Com isso, o trabalhador poderá, desde que tenha o atestado médico ou laudo psicológico, ir ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), para solicitar o benefício previdenciário", comenta Bruno.
Motivos de crescimento
O especialista cita ainda que a tecnologia também tem contribuído para a alta de casos no país. Segundo Bruno Chapadeiro, os casos de Burnout são registrados no Brasil desde 1970, mas os diagnósticos cresceram consideravelmente a partir de 1990. "Atualmente as formas de trabalho e as ferramentas tecnológicas possibilitam que o colaborador trabalhe por mais tempo e até aos fins de semana. O uso do home office, por exemplo, amplia essa carga horária. Ademais, há hoje um estudo mais aprofundado sobre a síndrome do burnout. Um deles, por exemplo, o burnout materno, ou seja, da mulher que é trabalhadora e mãe e que também tem as tarefas a serem realizadas em casa", comenta. Entre as profissões com maior registro de colaboradores diagnosticados com a síndrome estão: médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros.
Mas não só a tecnologia tem contribuído para o aumento de casos. Segundo o especialista, a informalidade corrobora para mais casos. "Os trabalhadores informais também estão sujeitos a síndrome, visto que atuam, na maioria dos casos, com uma carga horária extensa e por estar ligado muito a forma de trabalho, as condições financeiras também afetam o cenário, como motoristas de aplicativos, motoboys que exemplificam bem essa situação", explica Bruno Chapadeiro. De acordo com o último levantamento da Pesquisa Nacional por Domicílios (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas que trabalham por conta própria chegou a 25,9 milhões no trimestre encerrado em novembro de 2024. Um aumento de 1,8% quando comparado ao trimestre encerrado em agosto do ano passado.
Medidas de prevenção
Entre as medidas para a prevenção, para o especialista, estão a busca por políticas públicas que assegurem melhores condições de trabalho, além de acompanhamento periódico de profissionais de saúde com os colaboradores. "O trabalho multidisciplinar é fundamental para a prevenção. Então é importante intervenções in loco para que não haja o aumento de casos, como estamos registrando nos últimos anos. As organizações públicas e privadas devem fazer o levantamento dos riscos psicossociais para corrigir as falhas ou situações que possam prejudicar a saúde dos trabalhadores", finaliza.