O legado musical de Marília Mendonça promete se estender muito além dos quatro anos que se passaram desde sua morte trágica em acidente aéreo. Um acervo com aproximadamente 200 músicas inéditas da "Rainha da Sofrência" deve alimentar lançamentos pelos próximos 20 anos, segundo revelação do empresário Wander Oliveira, responsável pela administração de sua obra. A estratégia prevê o lançamento de cerca de 10 faixas anuais, garantindo a presença contínua da artista, que segue entre as cantoras brasileiras mais escutada nas plataformas digitais, no cenário musical brasileiro.
No centro dessa herança artística está um pen drive contendo entre 100 e 110 gravações feitas por Marília. O material inclui desde ideias embrionárias de composições até gravações caseiras em voz e violão, passando por interpretações tanto de canções autorais quanto de outros compositores.
A existência desse acervo atiça os fãs da cantora cuja força nas plataformas digitais impressona pelos números. Quatro anos após sua partida, ela mantém 11 milhões de ouvintes mensais somente no Spotify. O single "Leão", lançado postumamente em 2022, acumula quase 500 milhões de reproduções, evidenciando o apetite do público por novos trabalhos da artista. O álbum "Decretos Reais", de 2023, consolidou ainda mais essa demanda, provando o interesse permanente do público por seus trabalhos.
Em entrevista ao podcast "Marília: O Outro Lado da Sofrência", Oliveira fala da dimensão histórica desse material. "Existem coisas para 20 anos, com folga", garantiu o empresário.
Há, no entanto, uma complexa equação no que se refere ao patromônio artítisco de Marília. Seu acervo está distribuído hoje entre a família de Marília, representada por sua mãe; o cantor Murilo Huff, pai de Léo, filho da cantora; a empresa Workshow, de Wander Oliveira; e a gravadora Som Livre, que detém direitos comerciais sobre tudo que Marília produziu em vida. Essa multiplicidade de interesses tem gerado impasses que afetam diretamente os planos de lançamento.
Para embolar o meio campo, a guarda de Léo, hoje com cinco anos, é disputada judicialmente pelo pai da criança e pela mãe de Marília. "Para mim, o pen drive pertence ao Léo. Eu gostaria que, no momento em que ele tivesse entendimento, fosse entregue para ele, para fazer o que quiser. Isso é a história da mãe dele", opina Oliveira.
As negociações sobre o material inédito encontram-se atualmente paralisadas devido a questões contratuais envolvendo Léo. Segundo o advogado da família, Robson Cunha, Murilo Huff obrigatoriamente precisa assinar todos os contratos que envolvem o menino, o que ainda não aconteceu.
Marília Mendonça faleceu tragicamente em 5 de novembro de 2021, aos 26 anos, no auge absoluto de sua carreira. A cantora embarcou naquela manhã em um táxi aéreo em Goiânia, acompanhada de seu produtor Henrique Ribeiro e de seu tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho, com destino a Caratinga (MG), onde realizaria uma apresentação. A aeronave colidiu com cabos de uma torre de distribuição de energia, resultando na morte de todos os cinco ocupantes, incluindo o piloto e o copiloto.
A notícia da morte causou comoção nacional e internacional, com milhares de fãs e artistas prestando homenagens à cantora. A tragédia reacendeu debates sobre a segurança na aviação particular no Brasil. Dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) indicam que, entre 2010 e 2019, 46% dos acidentes aéreos no país envolveram aeronaves particulares. Especialistas apontam fatores como menor especialização de pilotos, manutenção menos rigorosa e exigências regulatórias mais brandas em comparação com a aviação comercial.