O dia que deveria ser de comemoração e homenagem aos profissionais que atuam nas esferas federal, estadual e municipal da administração pública, virou sinônimo de embate e luta. A data foi instituída em 1943, durante o governo de Getúlio Vargas, como forma de reconhecer o papel essencial desses trabalhadores na manutenção dos serviços públicos". No entanto, não é bem assim que entidades representativas dos servidores enxergam o tratamento dispensado ao funcionalismo, principalmente por conta da reforma administrativa.
Entidades como a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), a Federação Nacional dos Servidores Públicos Estaduais e do Distrito Federal (Fenasepe), e o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) têm se manifestado contra a PEC 32/2020, que trata da reforma administrativa. Inclusive, está marcado para esta quarta-feira (29) o dia de mobilização contra a reforma.
Entre as principais críticas estão:
• Ataque à estabilidade: a proposta enfraquece a estabilidade dos servidores, o que, segundo as entidades, abre espaço para perseguições políticas e compromete a imparcialidade do serviço público.
• Privatização disfarçada: há preocupação com a ampliação de contratos temporários e parcerias com o setor privado, o que pode levar à terceirização de funções essenciais.
• Desvalorização do servidor: A reforma é vista como um projeto que demoniza o funcionalismo público, ao invés de promover melhorias estruturais e valorização da carreira.
• Risco à qualidade dos serviços públicos: as entidades alertam que a proposta pode comprometer a prestação de serviços essenciais à população, como saúde, educação e segurança.
Apreensão com a reforma
O que deveria ser uma data de reconhecimento e valorização de categorias essenciais ao funcionamento do Estado atualmente é um momento de apreensão, alerta a advogada Déborah Toni, sócia do escritório Déborah Toni Advocacia e especialista em direito público e administrativo.
Segundo a especialista, a proposta de reforma administrativa em discussão reacende temores antigos: o de que, sob o argumento de modernizar a gestão pública, se esconda um projeto de desmonte do serviço público e de precarização das carreiras.
"As medidas propostas apontam para a flexibilização de garantias constitucionais historicamente vinculadas à estabilidade, à impessoalidade e à continuidade do serviço público, pilares que sustentam o Estado de Direito e protegem a sociedade de ingerências políticas e interesses privados", afirma.
Déborah avalia que a retórica da eficiência, quando dissociada de uma política de valorização e qualificação dos servidores, tende a fragilizar as instituições e comprometer a prestação de serviços essenciais à população.
"Mais do que uma pauta corporativa, a reforma administrativa toca o próprio modelo de Estado que se pretende preservar. A substituição de vínculos permanentes por contratações precárias, a redução de incentivos à qualificação e o enfraquecimento da autonomia técnica ameaçam transformar o servidor em mero executor, e não em agente de políticas públicas de longo prazo", afirma.
E finaliza: "O Brasil precisa, sim, de uma reforma administrativa, mas uma que valorize o mérito, assegure a transparência e fortaleça o serviço público, e não que retire direitos e desestimule vocações. É hora de reafirmar que o servidor público não é um custo, mas um investimento na estabilidade e no futuro do nosso país".