Por: Martha Imenes

13º salário: pagar dívidas ou guardar o dinheiro?

A dentista Pollyana Martins usará o 13º para fazer obra na clínica em Valparaíso de Goiás | Foto: Acervo pessoal

O 13º salário, esperado por milhões de brasileiros, já começou a ser pago por algumas empresas e pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para pessoas que se aposentaram após junho deste ano. Mas o que fazer com a grana extra? Quitar dívida, investir ou guardar o dinheiro para as despesas do início do ano? Dois especialistas sugerem cautela e uma coisa é certa, o Pix será o principal meio de pagamento, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offerwise.

De acordo com o advogado tributarista André Peniche, especialista em investimentos internacionais e planejamento patrimonial, a administração do benefício precisa ser guiada por estratégia, não por impulso. Para o professor de Gestão da Una, Stênio Afonso, o principal ponto é agir com cautela e consciência, especialmente porque o início do ano concentra despesas que costumam pegar as famílias de surpresa.

A dentista Pollyanna Trindade Martins, 42 anos, da Clínica Odonto Pop, de Valparaíso de Goiás, vai usar o dinheiro extra do 13º para fazer uma pequena reforma na clínica. "No dia a dia fica mais complicado parar para acertar uma coisa ali, outra aqui. Vou juntar o 13º com o feriado e fazer uns pequenos ajustes na clínica", conta Pollyana.

Dia a dia

A pesquisa aponta que os meios de pagamentos mais utilizados no dia a dia dos consumidores do país são o Pix (76%), cartão de débito (42%), cartão de crédito (35%) e por último o dinheiro (21%).

Os motivos destacados pelos consumidores pela preferência do uso do Pix são: rapidez e praticidade (71%), segurança (30%) e maior aceitação nas lojas (25%). No caso dos que preferem o cartão de crédito, as razões são o maior prazo para pagamento (55%), gosto pelo parcelamento das compras (46%) e rapidez e praticidade (42%).

"O país possui uma grande diversidade de opções de pagamentos, e diante de tanta novidade é fundamental que o consumidor se sinta seguro e permaneça atento. No caso do Pixvale conferir sempre o destinatário para evitar transferências erradas, e nos pagamentos por aproximação ter um limite para esse tipo de pagamento para evitar problemas caso o cartão ou celular sejam perdidos ou roubados", destaca o presidente da CNDL, José César da Costa.

 

Planejamento com o recurso extra

Com o 13º salário, muitos brasileiros já começam a planejar como utilizar o recurso extra. Para o professor de Gestão da Una, Stênio Afonso, o principal ponto é agir com cautela e consciência, especialmente porque o início do ano concentra despesas que costumam pegar as famílias de surpresa.

"Janeiro chega com IPVA, IPTU, matrícula e, material escolar das crianças e outras cobranças que, muitas vezes, não entram no planejamento financeiro. É comum que as pessoas gastem o 13º sem olhar para essas contas e acabem se endividando logo nos primeiros meses", explica o especialista.

O especialista destaca que o 13º é uma oportunidade única para eliminar ou reduzir dívidas, principalmente aquelas com juros elevados, como cartão de crédito, cheque especial e financiamentos de longo prazo.

"Tem gente pagando juros de 10%, 12% ou até 15% ao mês. Se o consumidor usa o valor para abater esses valores, consegue uma economia significativa e reduz o risco de transformar a dívida em uma bola de neve", afirma. Ele reforça que até financiamentos com taxas menores, como crédito imobiliário, podem valer a pena ser amortizados, por causa dos prazos longos.

Stênio alerta ainda para a pressão do varejo nessa época do ano. Com mais dinheiro circulando, lojas físicas e digitais intensificam ofertas e promoções tentadoras. Para muitos consumidores, receber um salário dobrado pode levar a compras emocionais e pouco planejadas.

"As pessoas ficam mais emotivas no fim do ano e acabam cedendo ao apelo das vitrines. Antes de trocar o celular, comprar uma TV nova ou planejar uma viagem, é fundamental avaliar as contas que chegam em janeiro. O 13º não deve ser tratado como dinheiro extra, mas como parte do orçamento", reforça.

Despesas obrigatórias

O professor pontua que despesas obrigatórias do início do ano costumam oferecer descontos significativos quando pagas à vista e isso reforça a importância de guardar parte do 13º. "No IPVA, por exemplo, o desconto pode chegar a 10%, dependendo do estado. O IPTU também oferece abatimentos atrativos. Pagando à vista, o consumidor evita parcelamentos e libera o orçamento mensal durante ano", explica.

O especialista destaca que a maioria dos brasileiros não possui reserva financeira e o 13º pode ser uma oportunidade de iniciar esse hábito. "É raro encontrar quem tenha dinheiro guardado para emergências. Uma manutenção no carro, um problema hidráulico ou até uma necessidade odontológica podem gerar despesas altas. Sem reserva, a solução acaba sendo o empréstimo", comenta.

Ele orienta que, se possível, o consumidor guarde pelo menos parte do 13º todos os anos. "Alguns especialistas falam em guardar o equivalente a um ano de salário, mas sabemos que essa não é a realidade da maioria. O importante é começar: guardar parte do 13º deste ano já faz diferença."

Segundo o professor, o ideal é que o consumidor construa, ao longo dos anos, um ciclo virtuoso de organização financeira. "No primeiro ano, use o 13º para limpar dívidas e colocar as contas em dia. No segundo, crie sua reserva. No terceiro, você já pode pensar em compras maiores, mas sempre planejadas e à vista, garantindo bons descontos", orienta.

Stênio Afonso reforça a importância da análise antes de qualquer decisão. "Planejamento é a palavra-chave. O 13º é uma grande oportunidade para equilibrar a vida financeira, mas só funciona quando usado com racionalidade. Cada escolha agora impacta diretamente a tranquilidade da família no início do próximo ano", finaliza.