Por: Martha Imenes

32 milhões de pessoas foram vítimas de crime virtual

Criminosos virtuais criaram páginas similares a bancos e e-commerce para aplicar golpe | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O crescimento de golpes virtuais no Brasil acende um alerta para empresas e consumidores. De acordo com a segunda edição da Pesquisa de Vitimização e Percepção da Segurança Pública no Brasil, realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 32 milhões de brasileiros — quase uma em cada cinco pessoas com 16 anos ou mais — foram ameaçados ou chantageados por criminosos que usaram dados pessoais ou de familiares para exigir dinheiro nos últimos 12 meses, gerando prejuízo estimado de R$ 24,2 bilhões.

Pix ou boleto falso

O levantamento mostra que 35% das vítimas de roubo sofreram golpe do Pix ou boleto falso, 11,4% foram alvos de criminosos que se passaram por elas, e 7% tiveram perfis bloqueados em redes sociais ou aplicativos de mensagem. 

Paulo César Costa, CEO da PH3A, afirma que o advento da tecnologia mudou o perfil dos crimes financeiros. "Está mais 'cômodo' aplicar golpes hoje em dia. No passado, era preciso manobras mais complexas e movimentações físicas dos criminosos para que tivessem sucesso. Hoje, basta acesso à internet de qualquer lugar para alcançar as vítimas. A evolução tecnológica acabou facilitando muito ocorrências de fraudes e estelionatos. A boa notícia é que há meios de se evitar e reduzir estes casos", afirma.

 

Novo malware se passa por bancos

Um novo vírus malicioso (malware) espalha um aplicativo falso para Android capaz de clonar dados de cartões usados em pagamentos por aproximação (NFC). A ameaça, chamada NGate, imita a identidade de grandes bancos brasileiros e finge ser app legítimo até de uma plataforma de e-commerce, mas na verdade é usada por golpistas para roubar informações financeiras.

Segundo a ESET, empresa de ciber segurança, os criminosos criaram sites falsos muito parecidos com a Google Play Store, onde imitam, sem consentimento, a identidade visual de instituições importantes e reconhecidas, e o usuário acredita estar baixando o app oficial de instituições, como Santander, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Mercado Livre. O download, no entanto, instala o malware no celular da vítima, que passa a ter seus dados bancários capturados.

Depois de instalado, o aplicativo fraudulento é capaz de interceptar dados usados em pagamentos por aproximação e repassá-los aos golpistas, que podem fazer compras ou até realizar transações em terminais de venda sem precisar do cartão físico.

Segundo Daniel Barbosa, pesquisador de segurança da ESET Brasil, o caso chama atenção pela sofisticação e pelo foco em um método de pagamento em expansão.

"Esse golpe é especialmente perigoso porque imita de forma quase perfeita os aplicativos verdadeiros. Utilizam a imagem de instituições importantes e respeitadas para que o usuário não desconfie. Os criminosos copiam ícones, cores e até descrições, o que torna difícil perceber o engano. O principal sinal de alerta é o endereço do site, que não corresponde ao oficial da loja de aplicativos", afirma o especialista.

Entre os endereços fraudulentos identificados pela ESET estão páginas falsas hospedadas em domínios que simulam a identidade de grandes bancos e empresas.

Confira as URLs

* Android/Spy.NGate.BD
* 223D7AA925549C9C657C017F06CF7C19595C2CEE
* 5a341dc1-98f9-4264-859a-e8bc6d236024-00-1vfeomyys26m9.janeway.replit[.]dev
* googleplay-santander.pages[.]dev
* googleplay-bb.pages[.]dev
* googleplay-itau.pages[.]dev
* googleplay-mercadolivre.pages[.]dev
* googleplay-bradesco.pages[.]dev

Tática comum

A ESET destaca que o uso de aplicativos falsos e sites clonados é uma das táticas mais comuns em golpes financeiros, especialmente no Brasil, onde o número de usuários de Android é alto. Em publicações anteriores, a empresa já havia alertado para o crescimento dos ataques que exploram pagamentos por aproximação e a importância de verificar sempre a procedência dos apps antes da instalação.


"Fraudes financeiras envolvendo smartphones estão cada vez mais direcionadas e personalizadas. Essas ferramentas facilitam a vida das pessoas, mas também acabam sendo exploradas por quem busca novas formas de fraude. Nosso papel é garantir que usuários e instituições reconheçam os sinais de alerta e adotem uma postura proativa de proteção", conclui Barbosa.