A "guerra do Rio" não é de hoje e nos últimos anos tem crescido de forma assustadora. Os impactos da criminalidade no estado não são somente sociais, mas também econômicos, com fuga de investimentos, fechamento de empresas e paralisação de serviços públicos e privados, além do transporte público. Ou seja, o impacto financeiro da expansão do tráfico de drogas e das milícias no Rio de Janeiro é multifacetado.
Dois estudos - um da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e outro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - apontam que as perdas com o avanço do crime no estado variam de R$ 10,76 bilhões a R$ 32 bilhões por ano.
De acordo com um estudo sobre o impacto da violência urbana nos negócios do setor terciário da Confederação Nacional do Comércio (CNC), os crimes violentos têm um impacto de R$ 10,76 bilhões a R$ 11,48 bilhões sobre a economia do Estado do Rio. Isso representa cerca de 0,9% do PIB do estado por ano. O cálculo da CNC analisa os números pela ótica do Produto Interno Bruto (PIB) e dos gastos com segurança pública.
Segundo Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, é importante mensurar a perda econômica por conta da criminalidade para revelar o grau de prioridade para a discussão de políticas públicas de segurança.
"O cálculo de impacto foi feito utilizando técnicas econométricas para buscar os efeitos causais dos índices de criminalidade na atividade econômica. A insegurança urbana não impõe custos somente a um setor específico, mas para toda a sociedade", ressalta Tavares.
Ele acrescenta que estimativas de instituições internacionais e de especialistas, em linha com o estudo da CNC, mostram que a criminalidade tem impactos diretos e indiretos sobre a atividade econômica, pois afeta a vida das pessoas, a dinâmica de faturamento das empresas e cria toda uma série de custos de transação, como seguros, monitoramento privado e pode até influenciar a atração de capital internacional.
Perda agregada no Cone Sul
Recorte do estudo do BID sobre o tema estima que os países do Cone Sul teriam uma perda agregada direta de 3,39% do PIB devido às elevadas taxas de criminalidade. A estimativa é que a perda social anual agregada devida à criminalidade no Brasil seria de R$ 372,9 bilhões. Considerando o impacto sobre o Estado do Rio, o efeito seria de R$ 32 bilhões. Considerando somente os efeitos diretos dos crimes violentos, o impacto seria de R$ 13 bilhões por ano.
O estudo do BID analisa dados de Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, considerando os efeitos da violência sobre capital humano e PIB, levando em conta crimes violentos não letais e letais, efeito sobre a produtividade dos países, efeito dos gastos policiais e do sistema prisional.
Parâmetros de levantamento
Tavares explica que a diferença de impacto entre o levantamento do BID e da CNC se dá porque estudo do BID é uma análise de países, pega dados de dados de Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai vários países e estima o efeito de forma agregada. Já o levantamento da CNC levou em consideração os dados dos municípios do Rio.
"Partimos da estimativa do município para chegar ao impacto no estado. Então, é como se o BID fosse por cima e analisasse por país e nós déssemos um estudo de baixo para cima, a partir das cidades. São caminhos diferentes e variáveis diferentes que a gente considera, mas os resultados estão em linha", diz o economista-chefe da CNC.