Por: Martha Imenes

Com juro do rotativo a 446% ao ano, veja como economizar

BC publicou novas regras para gestão de riscos | Foto: Reprodução

A manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano reflete negativamente no bolso do brasileiro. As Estatísticas Monetárias de Crédito divulgadas pelo Banco Central (BC) apontam que a média de juros do rotativo do cartão de crédito chegou a 446,6% ao ano, a modalidade mais alta do mercado. Já as taxas livres nas novas contratações de crédito para as famílias atingiu 57,7% ao ano.

O economista e professor do Ibmec, Gilberto Braga, alerta para os riscos de pagar o mínimo do cartão de crédito. "Chega um momento que é praticamente impossível pagar o cartão", diz Braga, que dá dicas para quem está endividado sair do vermelho (confira abaixo).

O levantamento aponta, no entanto, que na média de todas as contratações - crédito livre e direcionado, para famílias e empresas - o juro chegou a 31,4% ao ano, no mês passado.

No crédito livre, os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes. Já o crédito direcionado - com regras definidas pelo governo - é destinado basicamente aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito.

Nas contratações para as empresas, a taxa média do crédito livre ficou em 25% ao ano.

No caso do crédito direcionado, a taxa para pessoa física ficou em 11,2% ao ano em julho. Para empresas, a taxa média de juros foi para 13,6% ao ano.

Em julho, as concessões de crédito chegaram a R$ 644,1 bilhões. Nas séries sazonalmente ajustadas, elas recuaram 0,3% no mês, com redução de 2% nas operações com pessoas jurídicas e expansão de 2,5% com as famílias. Em 12 meses, as concessões nominais cresceram 12,3%, com altas de 9% nas operações com empresas e de 15,9% com pessoa física.

Com isso, o estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) ficou em R$ 6,715 trilhões, um crescimento de 0,4% em relação a julho.

Esse resultado decorreu, segundo o levantamento do BC, do incremento de 0,6% no crédito destinado às famílias, total de R$ 4,173 trilhões, atenuado, em parte, pela contração de 0,1% no crédito às empresas, que somou R$ 2,542 trilhões.

 

Dicas para 'desenrolar' as finanças

Vilão da alta dos juros, o rotativo do cartão de crédito deve ser evitado, segundo o economista Gilberto Braga, que deu dicas valiosas.

Como funciona a taxa do rotativo? Ela incide quando o consumidor paga menos que o valor integral da fatura do cartão de crédito (pagamento mínimo) o banco ou a operadora do cartão cobra juros sobre o valor que não conseguiu pagar.

Se está endividado

? Evite o crédito rotativo do cartão: pagar apenas o mínimo da fatura pode virar uma bola de neve. Negocie o valor total ou busque um parcelamento com entrada para reduzir os juros.

? Troque dívidas caras por mais baratas: por exemplo, substituir o rotativo do cartão por um empréstimo pessoal com juros menores.

? Negocie com o banco: muitas instituições estão abertas a renegociações para evitar inadimplência.

Se precisa de crédito

? Compare antes de contratar: use simuladores online para encontrar as menores taxas.

? Use seu score de crédito a seu favor: um bom histórico pode garantir condições melhores.

? Considere empréstimos com garantia: como refinanciamento de imóvel ou veículo, que costumam ter juros mais baixos.

Se tem um dinheirinho

? Evite financiamentos e parcelamentos longos: o custo do dinheiro está alto, pagar à vista pode ser mais vantajoso.

? Invista: aproveite a alta da Selic para aplicar em produtos de renda fixa como Tesouro Selic, CDBs e LCIs/LCAs, que rendem mais.

Taxa básica vai permanecer em alta, diz Galípolo

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse, em São Paulo, que a taxa básica de juros (Selic) no Brasil deve permanecer em patamar elevado por um longo período. Atualmente, a taxa está estabelecida em 15% ao ano.

Ao participar do 33º Congresso & Expo Fenabrave, na SP Expo, na capital paulista, Galípolo lembrou que é função do Banco Central trabalhar para que a inflação fique sempre dentro da meta, mas ressaltou que esse tem sido um processo lento e que, por isso, a Selic precisa ser mantida em um campo ainda bastante restritivo.

"Estamos em um cenário de ter descumprido a meta (de inflação) duas vezes - no final de 2024 e meados de 2025 - e com expectativas e projeções do mercado e do Banco Central que apontam que essa convergência está se dando de uma maneira lenta para a meta de inflação. É isso que tem demandado uma política monetária mais restritiva, que busca justamente fazer essa convergência para a meta", explicou.

O Copom definiu 3% como a meta a ser perseguida para a inflação do país, podendo variar 1,5% para cima ou para baixo. "A Selic é o quanto que o dinheiro se valoriza no tempo. A inflação é o quanto o dinheiro perde valor no tempo. Em um processo de elevação da inflação, você vê a meta escapar e, simultaneamente, ficar menos apertada a política monetária, que deveria justamente estar apertada para perseguir a meta", disse.