Por: Martha Imenes

Pagamento de brasileiros não dura 36 horas na conta

Bruno Chan, da Klavi | Foto: VIVIAN KOBLNSKY

Por Martha Imenes

O dinheiro do pagamento dos trabalhadores brasileiros não dura um dia e meio na conta (36 horas). E com uma taxa de juros em alta, como o Correio da Manhã mostrou na edição desta quinta-feira (28), o ideal é reduzir gastos, como por exemplo, trocar o plano do celular por um mais em conta, e cortar despesas supérfluas.

Análise realizada pela Klavi, fintech em inteligência de dados financeiros via open finance, mostra que 18% dos clientes gastam todo o saldo em até 24 horas. Além disso, mais da metade dos usuários - 56% - deixam menos de R$ 100,00 disponíveis na conta.

A pesquisa trouxe à tona um retrato sobre a velocidade que os brasileiros gastam o dinheiro que recebem. O estudo analisou movimentações bancárias reais de 8 mil pessoas em diferentes instituições financeiras e identificou um padrão acelerado de liquidação das contas logo após o recebimento dos valores.

Esse comportamento evidencia uma fragilidade estrutural na forma como as famílias brasileiras administram seus recursos, aponta a Klavi. Embora a análise aponte para hábitos de consumo imediatistas, ela também reflete o desafio de lidar com uma renda frequentemente comprometida por dívidas, contas e custos do dia a dia.

"Os dados mostram que o brasileiro tem pouca margem de manobra financeira. O que entra na conta, em grande parte, sai quase de imediato para cobrir despesas fixas e dívidas. Isso revela um cenário de vulnerabilidade que precisa ser olhado com atenção", aponta Bruno Chan, CEO e cofundador da fintech.

Para ele, o estudo serve como um alerta não apenas para consumidores, mas também para empresas e instituições financeiras. O padrão de liquidação acelerada das contas sugere que a maior parte da população vive em um fluxo financeiro restrito, com pouca margem para emergências, investimentos ou planejamento de médio e longo prazo.

Risco de endividamento crônico

O diagnóstico da Klavi se soma a outros indicadores públicos que reforçam a gravidade da situação. Dados da Serasa revelam que o Brasil alcançou, em junho de 2025, o maior número de inadimplentes da série histórica: 77,8 milhões de pessoas. O valor médio das dívidas ultrapassa R$ 6 mil por indivíduo, totalizando R$ 477 bilhões em débitos em aberto.

"O cenário aponta para uma população que, além de ter dificuldades em poupar, encontra obstáculos para retomar o equilíbrio financeiro. Esse comportamento pode estar relacionado a um padrão que já identificamos em outros cenários: o uso do cheque especial como uma espécie de capital de giro pessoal", explica Chan.

Com esse suposto capital de giro, "muitas vezes a conta parece 'limpa' porque o saldo foi recomposto, mas isso ocorreu com recursos do próprio limite do cheque especial, um crédito caro e de alto risco".

Esse movimento, complementa Chan, somado a gastos recorrentes acima da renda, cria um terreno fértil para o endividamento crônico.

"Sem um planejamento financeiro sólido, políticas de crédito mais responsáveis e iniciativas efetivas de renegociação, o resultado tende a ser um ciclo difícil de quebrar", analisa o cofundador da fintech.