Por: Martha Imenes

CNI: exportações tendema recuar devido a tarifaço

Deputado Pedro Paulo | Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O tarifaço estadunidense contra produtos brasileiros pode fazer com que as exportações apresentem queda. O mesmo pode ocorrer com investimentos e índices de emprego na indústria nacional. Ao mesmo tempo, segundo projeção da Sondagem Industrial, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produção industrial e a estabilidade da Utilização da Capacidade Instalada (UCI), se mantiveram em patamares aceitáveis.

Segundo o levantamento, o índice que mede a expectativa de exportações da indústria para os próximos seis meses recuou 5,1 pontos em agosto, caindo para 46,6 pontos. Quando abaixo de 50 pontos, o indicador sinaliza que os empresários esperam queda na quantidade exportada pelo setor.

Porém, se de um lado empresários esperam menos exportações; do outro, a capacidade de produção está acima de 50 pontos (52,6), o que representa aumento da produção industrial em comparação a junho.

"A piora das expectativas de exportações da indústria está relacionada a incertezas do cenário externo, principalmente em função da nova política comercial americana", resume a analista da CNI, Isabella Bianchi.

Há quem discorde da avaliação da CNI e pontue que o levantamento foi feito antes da entrada em vigor do tarifaço de Trump: "Se olharmos apenas a Sondagem Industrial, os dados isolados mitigariam qualquer alarmismo excessivo. Entretanto, são análises e indicadores que retratam uma realidade anterior ao tarifaço", avalia Ana Paula Abritta, diretora de Estratégia e Inovação da BMJ Consultores Associados.

"O governo brasileiro tem demonstrado proatividade com o Plano Brasil Soberano, que traz medidas que visam assistir o setor produtivo, proteger empregos e intensificar a diplomacia comercial", acrescenta a especialista.

 

Investimentos estão em 54,6 pontos

Apesar de mostrar recuo de 1,6 ponto, o índice de intenção de investimento está em 54,6 pontos, o menor valor para o indicador desde outubro de 2023. Ainda assim, o índice está 2,1 pontos acima da média histórica de 52,5 pontos.

O levantamento mostra estabilidade, em 71%, da Utilização da Capacidade Instalada (UCI) permaneceu em 71%.

Foi também observada estabilidade - em 50,1 pontos - no índice que mede a evolução do nível de estoques.

Quanto ao índice de estoque efetivo em relação ao planejado, foram observados 49,9 pontos, "revelando que os estoques estão ajustados ao planejado pelos empresários industriais".

Os reflexos das medidas anunciadas pelos Estados Unidos colaboraram para o recuo do número de empregados industriais, observado em julho de 2025, apesar de o contexto ser de aumento de produção no setor.

"Os índices de expectativa de demanda e de compra de insumos e matérias primas caíram. O primeiro encolheu 2,3 pontos indo para 53,1 pontos; o segundo, recuou 1,6 ponto, para 52,1 pontos", anunciou a CNI.

Associação de soja questiona Trump

A soja acendeu o alerta da American Soybean Association (ASA), que enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pedindo que revisse as tarifas impostas à China. Nos últimos cinco anos, o país asiático importou uma média de 61% da soja mundial dos Estados Unidos. Mas, com o tarifaço imposto, a China se voltou ao mercado brasileiro para importar o grão.

A associação pediu ao governo estadunidense a remoção das tarifas retaliatórias sobre a commodity chinesa e, se possível, o estabelecer compromissos significativos de compras do produto por parte do país asiático.

O documento pondera que: "devido à contínua retaliação tarifária da China, nossos clientes de longa data têm se voltado para nossos concorrentes na América do Sul para atender à sua demanda, uma demanda que o Brasil pode atender devido ao aumento significativo da produção desde a guerra comercial anterior com a China".

Sem afetar negócios

Matéria publicada com exclusividade pelo Correio da Manhã, mostra que o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) reúne estatísticas que contradizem as alegações usadas pelo presidente para justificar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.

Segundo os dados oficiais, o comércio de bens e serviços dos EUA com o Brasil (exportações mais importações) totalizou cerca de US$ 127,6 bilhões em 2024, um aumento de 12,2% (US$ 13,9 bilhões) em relação a 2023.

O site informa também que o comércio total de bens dos EUA com o Brasil (exportações mais importações) foi estimado em US$ 91,5 bilhões em 2024.