Por: Martha Imenes

Reciclagem de latinhas: a economia e o meio ambiente agradecem

Reciclagem de alumínio é um dos meios de subsistência de pessoas vulneráveis | Foto: Divulgação/Abal

Do chão ou das caçambas para o carrinho: latinhas jogadas fora movimentam cadeia de reciclagem que beneficia, além de cooperativas, população em situação de vulnerabilidade social, que transforma o lixo em dinheiro. Dados da MundCoop mostram que um catador de latas pode ganhar, em média, entre R$ 1.673,23 e R$ 2.441,71 por mês, dependendo de fatores como a região, a quantidade de material coletado e o preço do mercado.

Ou seja, para muitos, a latinha é o que garante o ganha-pão da família. Se de um lado ajuda a levar o sustento para casa, do outro torna o meio ambiente livre de mais resíduos. Pesquisa da Recicla Latas, associação sem fins lucrativos criada e mantida pelos fabricantes e recicladores de latas de alumínio para bebidas do Brasil, apontam que o Brasil atingiu 97,3% de reciclagem de latinhas em 2024. Em 2023, o patamar ficou em 99,7%.

No ano passado, foram reutilizadas 33,9 bilhões das 34,8 bilhões de latinhas comercializadas. A apuração é validada por auditoria independente e conta com o apoio técnico da Abralatas e da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). Depois que vão para o lixo, esses recipientes estão de volta às prateleiras em 60 dias. A economia e o meio ambiente agradecem!

De acordo com o secretário-executivo da associação, Renato Paquet, o sistema de logística reversa se destaca por sua consistência. "Mesmo em anos desafiadores, conseguimos manter índices elevados, o que demonstra a força da articulação entre os diversos elos da cadeia", disse.

A logística reversa, isto é, fabricantes se responsabilizarem pelo retorno de resíduos gerados por seus produtos, está prevista na Lei 12.305/2010, também chamada de Política Nacional de Resíduos Sólidos.

A Recicla Latas atua em parceria com a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) e a Associação Brasileira da Lata de Alumínio (Abralatas). A presidente da Abal, Janaina Donas, afirma que o Brasil é referência global em economia circular e que as fabricantes enxergam na reciclagem mais que uma solução apenas ambiental, "mas uma estratégia de competitividade, segurança de suprimento e um caminho essencial para a descarbonização do nosso setor".

Para o presidente da Abralatas, Cátilo Cândido, trata-se também "de uma cadeia estruturada que gera renda e oportunidades em todas as regiões do país".

 

Plástico ainda é um desafio a superar

Embora seja vista como pilar para promover a a sustentabilidade no Brasil, a reciclagem de plásticos ainda é baixa no país, que produz cerca de 1,4 milhão de toneladas de lixo plástico por ano e está entre os 10 maiores poluidores plásticos do planeta. De acordo com informações da Universidade de São Paulo (USP), apenas 1,3% do plástico produzido é reciclado.

Apesar disso, o setor de reciclagem de plástico é responsável por empregar cerca de 450 mil trabalhadores na coleta e triagem, sendo desses 14,6 mil empregos formais. Os catadores e as cooperativas são fundamentais nesse processo, sendo responsáveis pela recuperação de materiais recicláveis. O balanço é da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

De acordo com a associação, pela reciclagem passam diversas oportunidades para avançar na gestão eficiente de resíduos. Com cerca de 3.000 municípios (de 5.570) que ainda são dependentes de lixões, segundo a associação, há um grande potencial para investir na substituição dessas áreas por aterros sanitários modernos, melhorando a gestão de resíduos e protegendo o meio ambiente.

"Muitas regiões, especialmente rurais e periféricas, podem se beneficiar da implementação de sistemas de coleta seletiva mais robustos, ampliando a recuperação de materiais recicláveis e fortalecendo toda a cadeia", pontua a Abiquim.

Para a Abiquim, a reciclagem de plásticos é essencial no enfrentamento da poluição plástica. A associação informa que apoia o Acordo Global liderado pela ONU para criar um instrumento internacional juridicamente vinculante.

Estimativa de 800 mil catadores no Brasil

O Movimento Nacional dos Catadores estima que o país tenha cerca de 800 mil catadores de materiais recicláveis. Em 2020, foi firmado um termo de compromissos entre a Abralatas, a Abal e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) para manter o patamar elevado de reciclagem, e também a adoção de iniciativas, o documento determina investimento dos produtores para melhorar a renda e condição de vida dos catadores.

O presidente da Associação Nacional dos Catadores (Ancat), Roberto Rocha, disse à Agência Brasil que um dos caminhos para melhorar a qualidade de vida de catadores é que, além da remuneração pelo material entregue às recicladoras, os catadores sejam pagos também pelo trabalho de coleta em si.

"Ninguém paga para recuperação ou para coleta do descarte das latinhas", diz.

Parceria

A proposta da associação é que as prefeituras custeiem a atividade, com a participação da iniciativa privada.

"O que falta para melhorar e dignificar, melhorar a qualidade e o serviço dos catadores é que possamos ter um grande programa de pagamento pelo serviço prestado através da coleta das latinhas de alumínio", reivindica Rocha, que pede também que os catadores autônomos não vinculados a cooperativas também sejam beneficiados por políticas propostas pela lei de logística reversa.