Por: Martha Imenes

Dólar sobe e desce? Veja o impacto na economia brasileira

Dólar operou em baixa, mas subiu no fechamento | Foto: Marcello Casal Jr. - Agência Brasil

Após fechar a semana em R$ 5,43, com leve alta de 0,2%, o dólar estadunidense está em compasso de espera, aguardando o plano de contingência do governo Lula para ajudar os setores afetados pelo tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos. Segundo o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o plano pode ser anunciado nesta terça-feira. Alckmin explica que haverá uma régua para considerar a variação de exportações dentro de um mesmo setor. Assim, o socorro governamental será mais preciso.

Mas o que tem a variação do dólar com a economia brasileira? A variação do dólar está atrelada tanto à inflação quanto ao impacto nos contratos comerciais do Brasil com o exterior. Além dos contratos, a dívida pública brasileira é cotada em dólar, e as importações encarecem.

Exemplificando: a compra no exterior de produtos eletrônicos, medicamentos e combustíveis fica mais cara, o que pressiona a inflação no Brasil e impacta o custo de vida da população.

Ao mesmo tempo em que o poder de compra da população cai por conta do dólar, a produção de empresas que dependem de insumos estrangeiros também apresenta queda. O aumento no custo de insumos estrangeiros, com o dólar mais caro, pode afetar a produção e a competitividade das empresas brasileiras que dependem dessas importações.

No contraponto, as exportações crescem, pois a valorização do dólar torna os produtos brasileiros mais baratos para compradores estrangeiros.

Impacto na mesa

A alta da moeda norte-americana afeta a mesa do brasileiro. Isso porque o petróleo é cotado em dólar; a variação da moeda afeta diretamente os preços dos combustíveis, o que impacta o custo de transporte e, consequentemente, os preços dos produtos, incluindo alimentos.

Com esses movimentos, a economia brasileira fica parecendo uma montanha russa, que sobe, desce, faz volta, fica de cabeça pra baixo e quem está no carrinho fica tonto!

 

Plano deve focar nos mais afetados

O plano de contingência a ser anunciado pelo governo vai focar nas empresas mais afetadas pela imposição da tarifa, conforme explicou o vice-presidente Geraldo Alckmin. Segundo ele, será instituído um parâmetro para avaliar os efeitos das tarifas sobre cada setor baseado no grau de vendas para os Estados Unidos.

"Lula deve anunciar um pacote de medidas mitigatórias, ou seja, apoiar as empresas. Quais empresas? Aquelas que exportam mais para os Estados Unidos e que foram afetadas", informou durante evento no final de semana em Guaratinguetá (SP).

O vice-presidente também comemorou o aumento nas vendas de veículos após o governo federal anunciar no mês passado a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos sustentáveis.

Segundo Alckmin, as vendas aumentaram 15,7% após o anúncio das medidas.

"Isso significa a indústria produzindo mais, crescendo a indústria automotiva, que tem uma cadeira produtiva longa, as concessionarias vendendo mais, um ciclo positivo. O IPI zero ajuda a população a comprar um carro com desconto, mais barato", completou.

 

Daycoval alerta para o fator eleições

A previsão do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - a inflação oficial do país - teve um leve recuo, passando de de 5,09% para 5,07% este ano, apontou o Boletim Focus, do Banco Central. Para 2026, a projeção da inflação variou de 4,44% para 4,43%. Para 2027 e 2028, as previsões são de 4% e 3,8%, respectivamente. Os números são positivos. Entretanto, o banco Daycoval chama atenção para um cenário desafiador: as eleições de 2026.

Em relatório, a instituição aponta para uma inflação mais comportada, com a projeção para 2025 caindo para 5%, mas no ano seguinte a projeção de inflação foi mantida em 4%. "Nossa expectativa continua sendo de desaceleração nos componentes de bens industriais, alimentação no domicílio, serviços e preços administrados ao longo do próximo ano. Os riscos permanecem associados ao período eleitoral", mostra o relatório do Daycoval.

Em relação a composição do crescimento, o banco aumentou a projeção da agropecuária para 7,4% diante da safra recorde de milho.

O documento avalia que o consumo das famílias deve ser resiliente em 2025, com projeção elevada de 2,5% para 2,7%, sustentado pela massa salarial robusta e pelo pagamento de R$ 70 bilhões em precatórios em julho, impulsionando o PIB em 0,15 ponto percentuais

O cenário para o próximo ano, segundo a instituição, aponta para crescimento do consumo das famílias para 2,1%, refletindo a expectativa de expansão de programas sociais. Mas alerta que essas medidas pressionam o quadro fiscal. "Projetamos déficit primário de 0,23% do PIB em 2025 e 0,8% em 2026, dificultando o cumprimento da meta de superávit", pontua.

Quanto aos juros, a expectativa atual é que o Banco Central mantenha a taxa básica de juros (Selic) em 15% até o fim deste ano. A redução da taxa para 11,5% viria somente no início de 2026, refletindo um cenário de desaceleração da atividade econômica e da inflação. Além disso, diante de um quadro fiscal mais adverso, especialmente em ano eleitoral, o banco Daycoval reforçou o viés de postergação para início dos cortes.