Por: Jorge Vasconcellos

"Não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da República": Lula manda recado a Trump

Lula durante o Congresso da UNE, em Goiânia | Foto: Reprodução/Youtube

O presidente Lula (PT) voltou a criticar a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 50% a importação de produtos brasileiros. Durante o 60º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Goiânia (GO), ele disse que, em troca, irá cobrar imposto de "empresas digitais norte-americanas".

"Eu queria dizer para vocês que a gente vai julgar e vai cobrar imposto das empresas americanas digitais. Nós não aceitamos, em nome da liberdade de expressão, você ficar utilizando [as redes] para fazer agressão, para fazer mentira, para prejudicar", afirmou, citando um ramo da economia dos EUA que, segundo tem repetido Trump, é alvo de censura no Brasil.

Lula também se mostrou irritado com o tom nada diplomático adotado por Trump para se referir ao Brasil e a assuntos internos do país. “Não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da República. Não é. Eu sei a quem eu devo respeitar nesse país, eu sei quem é que manda nesse país, eu sei quem faz esse país ser o que é: o nome dessa pessoa só tem quatro letras, chama-se povo brasileiro”, disse.

Propostas engavetadas

Em outro ponto do discurso, o presidente reclamou que o governo norte-americano não respondeu às propostas do Brasil sobre as tarifas. "Não recebemos nenhuma resposta. A resposta que nós recebemos foi a matéria publicada no jornal, no e-mail dele, no Zap [WhatsApp] dele, no portal dele, porque ele não se dignou nem sequer a mandar uma carta", pontuou.

Em 16 de maio deste ano, o governo brasileiro enviou a Washington uma proposta de acordos para aprimorar a relação comercial entre os dois países, mas não houve resposta.

"Eu tenho certeza de que o presidente americano jamais negociou 10% do que eu negociei na minha vida", afirmou Lula, que voltou a questionar as razões da aplicação das taxas e a ironizar a relação entre Trump e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), citado pelo norte-americano como motivo principal para impor um tarifaço ao Brasil.

O governo brasileiro tem insistido que a decisão foi política e que as justificativas econômicas apresentadas por Trump não se sustentam, como a de que os EUA acumulam déficit nas trocas comerciais com o Brasil. Um relatório publicado na semana passada pela Amcham Brasil revela que, diferentemente do afirmado pelo chefe da Casa Branca, o superávit comercial dos Estados Unidos em relação ao Brasil alcançou US$ 1,7 bilhão. A cifra representa um aumento de aproximadamente 500% em comparação com o mesmo período de 2024.