As restrições impostas pelo governo do presidente Donald Trump ao acesso de viajantes aos Estados Unidos já causam impactos na economia do país, que pode perder, neste ano, US$ 12,5 bilhões em gastos de visitantes internacionais. A previsão faz parte de uma pesquisa elaborada pelo Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), órgão global que representa o setor privado de viagens e turismo, com sede em Londres.
De acordo com a Pesquisa de Impacto Econômico, os EUA, o maior setor de viagens e turismo do mundo, são o único país entre as 184 economias analisadas pelo WTTC e pela Oxford Economics com previsão de declínio nos gastos de visitantes internacionais em 2025.
Conforme o WTTC, os gastos de visitantes internacionais nos EUA devem cair para pouco menos de US$ 169 bilhões este ano, abaixo dos US$ 181 bilhões em 2024. Esse déficit significativo representa uma queda de 22,5% em comparação com o pico anterior. Para o Conselho, a perda não será sentida apenas no setor de viagens e turismo, representando “um golpe direto para a economia dos EUA em geral, impactando comunidades, empregos e empresas de costa a costa”.
Líder global em marcha à ré
Julia Simpson, presidente e CEO do WTTC, afirma: "Este é um alerta para o governo dos EUA. A maior economia de viagens e turismo do mundo está indo na direção errada, não por falta de demanda, mas por falta de ação. Enquanto outras nações estão estendendo o tapete de boas-vindas, o governo dos EUA está colocando a placa de 'fechado'”.
"Sem uma ação urgente para restaurar a confiança dos viajantes internacionais, pode levar vários anos para que os EUA retornem aos níveis pré-pandêmicos de gastos de visitantes internacionais, nem mesmo o pico de 10 anos atrás. Trata-se de crescimento na economia dos EUA - é factível, mas precisa de liderança de DC (Washington)", acrescenta.
Em 2024, segundo a WTTC, quase 90% de todos os gastos com turismo nos Estados Unidos vieram de viagens domésticas, com os norte-americanos passando férias em casa em números recordes. Mas o Conselho observa que essa forte dependência do turismo local está mascarando uma séria vulnerabilidade, já que “o mercado internacional é onde está o verdadeiro crescimento, e os EUA estão perdendo sua coroa”.
O Conselho ressalta ainda que, de acordo com o Departamento de Comércio dos EUA, os novos dados de chegadas internacionais para março de 2025 já revelaram uma queda acentuada e generalizada nas viagens de entrada de muitos dos principais mercados de origem do país.
As chegadas de passageiros do Reino Unido, um dos mercados de origem mais importantes dos EUA, caíram quase 15%. Da Alemanha, outro mercado emissor significativo, caíram mais de 28%; da Coreia do Sul, queda de quase 15%. De outros mercados importantes, como Espanha, Colômbia, Irlanda, Equador e República Dominicana, o declínio ficou entre 24% e 33%.
Boicote dos canadenses
A WTTC aponta também reflexos causados pelas ameaças e agressões do presidente Trump ao Canadá, país onde a população tem boicotado fortemente produtos dos EUA e reduzido viagens para lá.
“Como amplamente esperado, o mercado canadense está secando, com as reservas do início do verão caindo mais de 20% em comparação com o ano passado. Isso é mais do que um mergulho. É um alerta”, diz o WTTC.
“Enquanto outros países estão avançando, os EUA estão retrocedendo. Depender de viajantes domésticos pode ter mantido as luzes acesas durante a pandemia, mas sem um plano de recuperação internacional ousado, a maior economia de viagens e turismo do mundo corre o risco de ficar ainda mais para trás”, acrescenta o Conselho.
Uma oportunidade econômica perdida
O WTTC afirma ainda que o custo econômico da inação do governo dos EUA é claro. Viagens e turismo contribuíram com US$ 2,6 trilhões para a economia do país no ano passado e apoiaram mais de 20 milhões de empregos. Também contribuiu com mais de US$ 585 bilhões em receita tributária anualmente, respondendo por quase 7% de toda a receita do governo.
“Poderia ser ainda maior com uma forte base de visitantes internacionais. O setor tem sido um impulsionador confiável de receitas fiscais federais, estaduais e locais”, observa o WTTC.
Viagens para fora dos EUA
O Conselho ressalta que, por outro lado, as viagens para o exterior estão aumentando, com os norte-americanos viajando para o exterior em grande número. “Mas a recuperação dos principais mercados estagnou. Os EUA estão recebendo menos visitantes de seus vizinhos e países mais distantes, o que é um indicador claro de que o apelo global dos EUA está diminuindo”, analisam os pesquisadores.
O WTTC adverte que esse desequilíbrio não afeta apenas as economias locais e o emprego, mas também prejudica a posição dos Estados Unidos como um dos principais destinos globais para comércio, cultura e negócios.
Em 2019, os visitantes internacionais geraram US$ 217,4 bilhões em receita e apoiaram quase 18 milhões de empregos em todos os Estados Unidos. “Hoje, esse legado está ameaçado”, afirma o Conselho, que pede “ações imediatas para abordar o acesso a viagens, reconstruir os esforços de marketing internacional e restaurar a confiança global dos viajantes nos EUA”.