Por Marcello Sigwalt
Os recorrentes estímulos fiscais (de motivação flagrantemente eleitoreira) praticados pelo Planalto atuam na direção contrária da política monetária, de modo a atrasar, até por meses, os efeitos da Selic (taxa básica de juros) na desaceleração da economia. Mesmo quando tais incentivos não são tão expressivos, ainda assim a alta dos juros perde eficácia.
É o que observam economistas renomados do mercado, para quem o impacto da taxa básica - tanto sobre empresas quanto para consumidores - tende a ser mais lento, atingindo seu 'potencial máximo' entre seis a nove meses, após a elevação dos juros a um novo patamar.
Para o economista-chefe da ARX Investimentos, Gabriel Barros, a defasagem da política monetária (nome técnico do fenômeno) pode variar hoje, entre 12 e 16 meses, avanço considerável, se comparado aos nove meses, em 2022, por conta do 'peso' do programa Auxílio Brasil, rebatizado depois de 'Bolsa Família'. "A defasagem ficou maior porque o fiscal está entupindo os canais de transmissão da política monetária", afirma Barros. "Tem muito estímulo fiscal acontecendo, e isso está tirando a potência da política monetária. É como se o BC tivesse uma bola de ferro no pé, que atrapalha de progredir na direção da meta de inflação", explicou Barros.
Ele vê semelhanças com o 2º mandato do governo de Dilma Rousseff. "É um momento parecido, com programas como o Vale-Gás, o Pé-de-Meia, a nova faixa do Minha Casa, Minha Vida", arrematou.
Somente no ano passado, o governo federal dispendeu R$ 278,9 bilhões com o Bolsa Família e o BPC, sem contar renúncias tributárias de R$ 544,5 bilhões em 2024.
"O gasto tem apresentado uma tendência de crescimento quase independente dos governos de plantão", afirma o economista-chefe da Warren e especialista em contas públicas Felipe Salto.