Por Marcello Sigwalt
"Como o cenário econômico segue marcado por expectativas [de inflação] 'desancoradas', projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho este prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado, para assegurar a convergência da inflação à meta".
Assim, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom-BC) justificou, segundo a ata divulgada nessa terça-feira (13), a elevação, em meio ponto percentual (0,5 p.p.), a Selic, ao patamar de 14,75% ao ano, o maior em 20 anos. Em outras palavras, os membros do colegiado deixaram patente que o ciclo de aperto monetário, além de não estar longe do fim, deverá prosseguir nos próximos meses.
Em outro trecho do documento, o comitê esclarece que "a política monetária significativamente contracionista já tem contribuído e seguirá contribuindo para a moderação de crescimento", além de produzir "impactos no mercado de crédito, nas sondagens empresariais, no mercado de câmbio, nos balanços das empresas, assim como na moderação de alguns indicadores de atividade e de mercado de trabalho".
Numa crítica indireta à condução errática da gestão econômica petista, o Copom observou "esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade".
Ao admitir que os efeitos da política monetária restritiva 'se aprofundem nos próximos trimestres, o comitê identificou "aumento do comprometimento da renda familiar com o serviço das dívidas pode antecipar menor demanda por crédito".