Por Marcello Sigwalt
Como amplamente precificado e projetado pelo mercado nos últimos dias, o Copom-BC (Comitê de Política Monetária do Banco Central) confirmou a elevação, de 14,25% para 14,75% ao ano da Selic (taxa básica de juros), acréscimo de meio ponto percentual que 'quebra' o ciclo de reajustes de um ponto percentual, anteriores, mas guinda o Brasil ao nada invejável posto de terceira maior taxa real de juros do mundo.
Entretanto, a leitura atenta do comunicado do colegiado permite antever que o aperto monetário pode estar longe de seu término.
"Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação". Aqui, a palavra-chave é 'flexibilidade', o que significa dizer que a autoridade monetária não se furtará em dar nova 'puxada' nos juros, caso o cenário assim recomende, na sua avaliação.
Como argumento a essa perspectiva, o comitê atesta que "em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado dinamismo, mas observa-se uma incipiente moderação no crescimento. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação".
Sobre os fatores que poderão influenciar no avanço do IPCA e das expectativas de inflação, o Copom aponta: a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada devido ao hiato do produto mais positivo e a conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, em decorrência de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.