Por Marcello Sigwalt
O 'paciente' Brasil exibe sintomas muito graves, cujo único tratamento possível é de natureza fiscal, que é a ajuda que falta ao Banco Central (BC) para resgatar o compromisso de fazer convergir a inflação à meta, objetivo que parece muito distante de se concretizar, nesse ano ou no que virá.
Tomando por base o crescimento avassalador da dívida pública, o ex-presidente do BC, Armínio Fraga recorre à linguagem metafórica para expressar a preocupação geral do mercado: "A curva de juros está lá na Lua, a perder de vista.[...] As expectativas de inflação, não as de curto prazo, que dou pouca importância, mas as taxas implícitas idem, em 6% a perder de vista, sugerem um problema: o Banco Central precisa de ajuda e só tem um lugar que pode ajudar que é o fiscal", disse.
Ao acompanhar, da plateia, um seminário realizado no Rio de Janeiro, com a participação do presidente do BC, Gabriel Galípolo, Fraga lançou um prognóstico sombrio para seu sucessor no posto. "Ele vai tomar um suco amargo". Para ele, a única ajuda que a autoridade monetária precisa, no momento, é fiscal, ou seja, tem de vir do equilíbrio das contas públicas, por parte do Executivo federal. Enquanto esse improvável 'socorro' não chega, o Copom (Comitê de Política Monetária) deu mais um aperto no custo do dinheiro, ao subir a Selic (taxa básica de juros) de 12,25% ao ano para 13,25% ao ano, na última semana.
Mais adiante em sua preleção, o ex-dirigente monetário voltou à carga: "Você [dirigindo-se a Galípolo], como uma pessoa de confiança das altas autoridades do nosso país, talvez possa convencê-los que não tem mágica", afirmou Fraga.
Descartando a justificativa tecnocrática de 'problema de comunicação', pois o BC "não faz milagre", Fraga retoma a metáfora médica para explicitar a situação do país: "Eu considero que o paciente está na UTI", disparou.