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'Queima' de reservas pôs país em condição mais vulnerável

Por Marcello Sigwalt

A necessidade recorrente do Banco Central (BC), de 'queimar' as reservas de dólares nacionais para enfrentar os ataques contra o real, alimentados pela crescente desconfiança do mercado no ajuste fiscal do Planalto, tornou o país mais vulnerável a novas crises de volatilidade cambial (leia-se, choques internacionais), pois a cobertura da dívida externa é hoje a menor em 17 anos.

Tal cenário acendeu o 'sinal de alerta', sobretudo após a intervenção operada pelo Banco Central (BC) no câmbio, a maior da história do regime de flutuação.

Além da deterioração flagrante das contas externas, em razão da mencionada intervenção cambial do BC, igualmente piorou o déficit de transações correntes (entradas e saídas de recursos). Apesar dos temores, economistas entendem que o cenário não é, ainda, alarmante, uma vez que a trajetória atual sugere desaceleração econômica, o que, aliada ao encarecimento do dólar e valorização do real, indica uma redução significativa das importações. Especialistas creem que o BC não retomará a venda de dólares com a mesma intensidade.

Embora os investimentos estrangeiros diretos atinjam US$ 71 bilhões (R$ 408 bilhões), estes são incapazes de financiar, 'com tanta folga', o déficit nas transações correntes, que mais do que dobrou: de US$ 24,5 bilhões, ou 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2023; para US$ 56 bilhões, ou 2,5% do PIB, em 2024.

O economista-chefe do Andbank, Alex Fuste, avaliou que, embora suas reservas internacionais tenham atingido US$ 329,7 bilhões em reservas, o país se tornou mais vulnerável a choques vindos do exterior. "Como o que temos pela frente, fruto da estratégia de tarifas (de Trump), é um choque externo por escassez de dólares, posso dizer que o Brasil hoje está em situação mais vulnerável. Isso é o que nós, investidores com foco em mercados emergentes, observamos", disparou.