Por Marcello Sigwalt
Você escolheria a beira de um vulcão para fazer seu piquenique? Pois esta é a imagem construída pelo CEO da Verde Asset Management, Luís Stuhlberger, para descrever o atual cenário do país, marcado por uma situação fiscal 'muito ruim' e a tendência de 'agravamento' dos indicadores da dívida pública que, em novembro último, alcançou 77,7% do PIB, o equivalente a R$ 9,1 trilhões.
Sem esconder o sarcasmo inerente às suas análises, Stuhlberger entende que o 'piquenique' mencionado pode até continuar, pois nem é necessário ter 'boas notícias', mas que não venham 'notícias ruins', este último fator é considerado por ele como determinante para o recuo do dólar para a casa de R$ 5,86 na tarde dessa terça-feira (28).
Ao comentar que as 'notícias ruins' têm dia e hora para chegar, o executivo previu que, de 2024 a 2026, o país arcará com déficits nominais da ordem de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), o que ele considera 'insustentável', se mantido por muito tempo. À medida que sobem os juros (vide Selic, que deve passar a 13,25% ao ano, nessa quarta-feira, 29), e o PIB crescendo na casa de 2% ao ano, a sustentabilidade da dívida pública 'ficaria em xeque'. "Alguma coisa vai ter de acontecer", profetiza.
"Como a gente cresce acima do potencial, tem inflação, e aí tem que subir os juros", explicou, didático, Stuhlberger, ao observar que, enquanto a inflação é de alimentos 'tira o sono' do governo federal, a de serviços 'tira o sono' do Banco Central (BC). Na sua avaliação, a 'boa notícia' é que o dólar em queda retira 'pressão' sobre os preços dos alimentos.
Sobre a primeira reunião do Comitê de Política Monetária, sob comando do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, o CEO da Verde Asset manifestou a expectativa é de que ele, ao invés de aumentar o guidance (tendência) de alta dos juros em 100 pontos-base, discutirá isso na ata (do Copom).