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Governo federal 'erra o alvo' de combate à inflação

Por Marcello Sigwalt

Um tiro pela culatra. Assim pode ser definido o empenho 'monolítico' do Executivo federal em 'combater' a alta do preço dos alimentos - acenando com redução de alíquotas de importação - enquanto a maior ameaça para disparada inflacionária vem do setor de serviços.

Os números não mentem. De uma estimativa de 0,36% pelo mercado, os serviços registraram forte aceleração, de 0,64% para 0,85%, na passagem de dezembro para janeiro corrente, o que corresponde, avaliam especialistas, a uma 'reaceleração'. Isso porque, no último mês de 2024, estes haviam recuado, de uma alta de 0,72%, em novembro. Para esse resultado, pesou o aumento superior a 10% das passagens aéreas, contrariando a expectativa geral, de queda.

Mas se excluído este item 'volátil', os serviços subjacentes também pressionaram o índice do setor, com uma alta de 0,71% para 0,96%, maior patamar, desde maio de 2022, quando variou 0,98%. No acumulado em 12 meses, esses serviços passaram de 5,66% para 5,95%, no mesmo comparativo mensal, só superados pelo aumento de 6,53%, ocorrido em junho de 2023.

Pelo critério de 'médias móveis' de três meses, sazonalmente ajustadas e anualizadas - que serve para captação mais 'nítida' da tendência dos preços, do que na variação em 12 meses - — os serviços e dos serviços subjacentes avançaram 9,1% e 8,7%, respectivamente, no IPCA-15 (prévia do IPCA) de janeiro, aponta relatório do banco de investimentos dos EUA, Goldman Sachs.

A inflação dos serviços vem sendo 'alimentada' por uma atividade doméstica 'sobreaquecida' e pela renda disponível das famílias, reforçada pela elevação de 7,5% do salário mínimo.

Outro exemplo é o da inflação de serviços mais sensíveis à mão de obra (excetuando o trabalho doméstico), que 'saltou' de 0,75%, na prévia de dezembro, para 1,28% este mês.