Por Marcello Sigwalt
Caso se mantenha, como até agora, o desajuste fiscal, deverá ocorrer uma espécie de 'calote' na dívida pública, convenientemente 'disfarçado' pela inflação. A previsão 'caótica' foi apresentada pelo economista-chefe da Genial Investimentos e doutor em economia (PhD) pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), José Márcio Camargo, para quem o governo terá de escolher no fatídico ano de 2026, de eleição presidencial, entre inflação e desemprego, ambos fatores negativos para as pretensões petistas por uma recondução ao Planalto.
Ao destacar que a reviravolta em torno da 'fiscalização' da movimentação do Pix representou 'uma perda de credibilidade generalizada' para o governo, Camargo prevê que, no ano que vem, o Planalto terá de optar por dois caminhos: ou deixa a inflação acima do teto da meta ou assistir à deterioração do mercado de trabalho.
Segundo ele, a escolha federal recairá fatalmente pela inflação mais alta, colocando o IPCA acima de 7% em 2026, a reboque da valorização do dólar, cuja cotação poderá chegar, inclusive, a R$ 7,20, assim como pelo previsível aumento dos gastos públicos, em ano de eleição.
A opção pelo aumento da inflação, como parte do 'ajuste fiscal' pode ser explicada pelo fato de que esta reduz a dívida, em termos reais, cenário que, segundo ele, se assemelha ao vivido pelo país nos anos 80. "É um calote disfarçado, num certo sentido. Você está diminuindo o valor da dívida (com a inflação mais alta). Os possuidores da dívida, que comparam títulos com taxa de juros fixa lá atrás, vão perder", afirmou.
Sobre o 'vexame' do episódio Pix, o doutor em economia diz: "É impressionante que o governo tenha de voltar atrás numa norma da Receita Federal devido às redes sociais. Isso mostra que as pessoas não estão acreditando efetivamente naquilo que o governo está falando".